Bem escolhido.
O novo Ashram minimalista
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
A Cultura em Portugal
Desde que os nossos caminhos se cruzaram há muito, muito tempo, ele sempre representou para mim o pior da esquerda caviar: muita conversa «radical chic» a sublinhar a pose peneirenta, as tiradas acacianas com pretensões a verve polida, os trejeitos pseudo-palacianos, os fatos de bombazine e a melena sugerindo um toque de rebeldia, tudo no meio da mais desenfreada arrogância, da mais incongruente vassalagem ao vil metal. Nunca, felizmente, lhe frequentei a casa: mas vários que o faziam testemunharam que a inflamada retórica spartakista só era interrompida por desagradabilíssimos impropérios e prepotências dirigidos à criadagem.
Bem escolhido.
Bem escolhido.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Uma soirée teriofílica 4
"A verdadeira bondade do homem só pode manifestar-se em toda a sua pureza e em toda a sua liberdade com aqueles que não representam força nenhuma. O verdadeiro teste moral da humanidade (o teste mais radical, aquele que por se situar a um nível tão profundo nos escapa ao olhar) são as suas relações com quem se encontra à sua mercê: isto é, com os animais. E foi aí que se deu o maior fracasso do homem, o desaire fundamental que está na origem de todos os outros" – Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser
Uma soirée teriofílica 3
"Não existe qualquer razão objectiva para tomarmos os interesses dos seres humanos como mais importantes do que os dos outros animais. Podemos destruir os outros animais mais depressa do que eles nos podem destruir a nós; essa é a única base sólida para a nossa alegação de superioridade. Damos valor à arte, à ciência e à literatura porque essas são actividades nas quais pontificamos. Mas as baleias podem prezar os jorros de vapor, e os burros podem achar que um bom zurro é mais requintado do que a música de Bach. Não podemos refutá-los senão através do exercício de poder arbitrário. Todos os sistemas éticos dependem em última análise da força bélica" – Bertrand Russell, "If Animals Could Talk"
Uma soirée teriofílica
"E assim dei-me conta de que Deus permite que o mundo continue no curso do pecado para poder pôr à prova a humanidade, e para que os próprios homens verifiquem que não são melhores do que os animais. Pois tanto estes como aqueles respiram o mesmo ar, todos têm o mesmo destino, todos morrem. A humanidade não tem reais vantagens sobre os animais, e tudo é efémero. Todos vão para o mesmo lugar, todos foram feitos do pó, e todos para o pó hão-de voltar" – Eclesiastes, 3: 18-20
Youkali e Balbec-Plage
Agradecendo a gentil lembrança de Je Maintiendrai, aqui vão duas referências à conexão Visconti / Proust, remetendo ainda para a meditação de Pierre Assouline sobre o tema, acompanhada de um maná de comentários eruditos (num blog que leio cada vez mais frequentemente): AQUI.
Em apêndice, a alusão a duas versões inspiradas de Youkali: na voz opulenta de Dee Dee Bridgewater e na guitarra de Jim Hall.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
O problema do mal, a questão da culpa
Ainda há dias me referia a questões nesta área, e agora leio uma longa e interessante meditação AQUI.
Na morte de Suharto
Morreu o homem que evitou que a Indonésia se tivesse tornado num segundo Vietname, ou num Cambodja. O resto é lenda negra, aquela que nos últimos 60 anos (ou mais) perseguiu todos os que ousaram fazer frente ao comunismo. Diz bem o Confrade Combustões, há ainda uma extensíssima pedagogia histórica a fazer, quando são levados em ombros e passeiam no meio de nós os verdadeiros responsáveis da guerra civil e do colapso de Timor.
domingo, 27 de janeiro de 2008
Reverso
A nossa existência é uma tapeçaria, e o nosso decoro é a vontade de escondermos os nós e os remendos. Mas quando cada um está a sós com a sua consciência, não é como se estivesse a passar o dedo pelo lado áspero e oculto da tapeçaria? Talvez haja santos morais capazes de manter o verso e o reverso igualmente impecáveis. Para mim, o contraste e a aspereza fazem parte do sal da vida, não consigo imaginar-me sem eles.
Do mais para o menos
Lembro-me tantas vezes de uma observação de Sebastião Cruz, um campeão de aforismos, que me dizia a mim, jovem dando os primeiros passos na profissão: "começamos a ensinar mais do que aquilo que sabemos, acabamos a ensinar menos do que aquilo que sabemos". Penso nisso e pergunto-me hoje se não será exactamente o mesmo em tudo o que fazemos na vida.
sábado, 26 de janeiro de 2008
Fanfarra para o homem comum 3
Nos filmes de gangsters é preciso eliminar aqueles que sabem de mais. Um dos pontos mais saborosos da amizade é haver quem saiba de mais a meu respeito. Nada me provoca maior gratidão do que um amigo lembrar-me uma coisa sobre mim mesmo que eu já esqueci, e nada me dá mais gozo do que sentir-me à mercê da sua discreta cumplicidade.
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
ULTIMA HORA
Vários presos perigosos evadiram-se da Penitenciária. Contactados os guardas prisionais e o Director da Penitenciária, todos manifestaram a sua perplexidade – não com a fuga, mas com o facto de os evadidos não terem comunicado previamente a sua intenção. Dizia um, muito judiciosamente, que não é possível exercer-se adequadamente a função de guarda prisional sem se dispôr de informação fornecida pelos próprios presos. Que podem os pobres guardas fazer, é verdade, se os presos não cooperam?
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Passando agora a uma outra questão, o Banco de Portugal e a CMVM...
Banalidade do Mal?!
Há frases feitas que se instalam como lugares comuns e que condicionam profundamente a nossa percepção. Há umas horas, numa discussão, alguém avançava com o estafado cliché sobre a «banalidade do mal». Por todos os méritos de Hannah Arendt, acho que ela prestou um mau serviço. Felizmente o registo ficou; quem quiser ter a paciência de ver os dois excertos infra (e há mais) logo tirará as suas próprias conclusões. Eu não vejo banalidade nenhuma, vejo sim a sagacidade dissimuladora que fez milhares de húngaros (e não apenas) marcharem docilmente para a sua morte. Eichmann foi um hábil manipulador: a carapaça de banalidade, demasiado transparente, foi quando muito um último estratagema para salvar a sua própria pele.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Double standard, singularidade e anti-semitismo
Os problemas da esquerda (e da direita mais burra) com Israel: a aplicação a um Estado de critérios de legitimação (de origem e de exercício) que não são aplicados a mais parte nenhuma do mundo. LER
Arte dissoluta - o reaccionarismo de Rousseau
Sobre as tiradas de Jean-Jacques Rousseau contra o carácter corruptor das artes (de certas artes): LER
Senhor Comentador, ¡bienvenido!
Tem razão, somos todos criminosos, e foi com essa tese que me apercebi da minha criminosa omissão da sua retumbante, bombástica, irrupção neste entorpecido milieu. Para V. Ex.a vai um lote de vinhos de Mendoza, a evocar um terroir austral com vistas andinas. E é claro, tudo acompanhado pelo único crime que compensa, uma modinha pelos Chalchaleros.
Pedro Rolo Duarte, ¡bienvenido!
Sacudir com tanta mestria a minha nostalgia do Apolo 70 – ou melhor, de uma Lisboa minúscula na qual, jadis, o Apolo 70 fez as vezes da modernidade e do cosmopolitismo (a gente entra lá e não acredita que fôssemos tão pequenos a ponto de o local servir de inspiração modernizadora) –, mexer assim com sentimentos em tão poucas palavras, dizia, é obra. Saudações de um leitor atento, que inveja essa capacidade de emoção proustiana com as cintilações topográficas e olfactivas de uma modernidade evanescente.
O meu antitabagismo solipsista
O facto de andarmos empenhadíssimos em projectos de médio ou longo curso tem a virtude de nos isolar em relação a muita neurose do quotidiano. Acho que lá fora, a propósito do «direito de fumar», as mentes ilustres do burgo andam a reinventar os conceitos de liberdade e de civismo. Aqui ao claustro chegam apenas ecos, entre o «ora» e o «labora» e a ruminação solipsista dos copistas.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Para acabar um loooooongo dia em classe: um Ashram-Farol em Montana
Sobre o Lago Flathead; à venda AQUI. Um bourbon com gelo, um romance de Louis L'Amour e um CD de Neil Young, e cá temos «quality time»!
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
domingo, 20 de janeiro de 2008
Hubris em África
Conheci-o vagamente através de amigos comuns, era um dos rapazes mais promissores do «beautiful people» alfacinha: mulheres, dinheiro e carros abundavam, e a vida parecia não pesar naquele sorriso permanente. Soube há muito pouco tempo de uma terrível tragédia familiar, e passei a pensar nele noutros termos, quase opostos aos de anteriormente. Sei agora que acabou num desastre aéreo perto de Nova Lisboa: os deuses devem ter achado demasiado desafiador aquele perene sorriso, aquele sucesso precoce.
The Road to Mandalay
Where there aren't no Ten Commandments an' a man can raise a thirst;
For the temple-bells are callin', an' it's there that I would be -
By the old Moulmein Pagoda, looking lazy at the sea;
On the road to Mandalay,
Where the old Flotilla lay,
With our sick beneath the awnings when we went to Mandalay!
On the road to Mandalay,
Where the flyin'-fishes play,
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