O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Velho Portugal, Ring-a-Ding Ding (elegia velada)



Hoje quando soube da morte da Maria José Nogueira Pinto resolvi ler finalmente (online) a entrevista do casal Nogueira Pinto com a Anabela Mota Ribeiro.
Soube-me a Velho Portugal, um país com que deixei de cruzar-me há muito mas cujas memórias continuam a interpelar-me, filtradas agora pela doçura da distância.
Pensei em pessoas que me miravam do alto da sua absoluta elegância e me prometiam, sem mo dizer, só de eu vê-las, que havia uma travessia que se chamava idade adulta, que estava repleta de recantos sombrios e de reverberações de Frank Sinatra, que gravitavam serenamente entre a Baixa de dia e as Avenidas ao anoitecer.
Eu não podia saber que aquela estranha sensação de imobilidade radiante escondia uma outra cidade e um outro país que outrora pulsara e sofrera de modo inteiramente distinto. Vivi-o como um super-organismo, como imagino que as formigas viveriam as suas inevitabilidades deterministas se pudessem ter a consciência disso; a inefável elegância a que eu aspirava era o prolongamento artificial de um instantâneo, era o momento de doce alienação que, no grande sanatório da neurose adulta, precede imediatamente o abandono e a frustração.
Claro que houve muitos outros países a precederem este, a conviverem com este, a regatearem com este uma identidade, finalmente a submergirem este – e todos se chamaram Portugal. O meu nem sequer é o Velho Portugal, chamo-o assim porque me sinto velho contemplando os olhos morenos que já não fitam, mas outrora fitando-me anunciavam silenciosos um país de promessas e possibilidades, um país que julguei que continha mais sonhos do que os sonhos que cabiam na minha ingenuidade.

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