Discutimos animadamente as perspectivas do patriotismo nos próximos anos, depois de ele, um acrisolado patriota, ter anunciado que não lhe restava senão refazer a sua vida no estrangeiro, num momento em que a sua vida parecia encaminhar-se para um apogeu de estabilidade e de prosperidade.
Lembrei-me que há muito um país que se expande pelo mundo – não por sonho glorioso e glorificado, mas a mais das vezes por estrita necessidade – é um país composto por gente que precisa de sentir-se patriota para não cair no mais fundo desespero, e por isso teci um novelo de argumentos que se acastelaram numa sequência muito pouco convincente, do género "o patriotismo é, neste momento, partir".
Na realidade o patriotismo, se é o atordoamento da crítica contra os que governam e desgovernam e se governam, é neste momento uma atitude estúpida e inoportuna: é a atitude daquele sabujo que segue o patrão quando este, anunciando a iminência do encerramento da empresa, apela a que todos mostrem a sua solidariedade e "vistam a camisola da equipa".
É contando com essa fidelidade que os abusos surgem, e contando também com os idiotas úteis que sonham com a "resistência interna" e com a possibilidade de regeneração dialéctica dos males - isto ao mesmo tempo que, sem hesitação ou angústia, vão oferecendo a sua pronta colaboração.
Digamos isto de outro modo: o patriotismo é um sentimento útil e valioso se nos serve de base para partilha e para cooperação entre aqueles que o nutrem; mas é um sentimento inútil e perigoso se a ele servimos em holocausto a nossa liberdade e o nosso discernimento, se ele se torna num obtáculo à possibilidade de vivermos honradamente uma vida bem vivida, no sentido de vida com significado, num qualquer recanto do planeta.
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