O novo Ashram minimalista

domingo, 23 de maio de 2010

Muito tarde para patriotismos

Discutimos animadamente as perspectivas do patriotismo nos próximos anos, depois de ele, um acrisolado patriota, ter anunciado que não lhe restava senão refazer a sua vida no estrangeiro, num momento em que a sua vida parecia encaminhar-se para um apogeu de estabilidade e de prosperidade.
Lembrei-me que há muito um país que se expande pelo mundo – não por sonho glorioso e glorificado, mas a mais das vezes por estrita necessidade – é um país composto por gente que precisa de sentir-se patriota para não cair no mais fundo desespero, e por isso teci um novelo de argumentos que se acastelaram numa sequência muito pouco convincente, do género "o patriotismo é, neste momento, partir".
Na realidade o patriotismo, se é o atordoamento da crítica contra os que governam e desgovernam e se governam, é neste momento uma atitude estúpida e inoportuna: é a atitude daquele sabujo que segue o patrão quando este, anunciando a iminência do encerramento da empresa, apela a que todos mostrem a sua solidariedade e "vistam a camisola da equipa".
É contando com essa fidelidade que os abusos surgem, e contando também com os idiotas úteis que sonham com a "resistência interna" e com a possibilidade de regeneração dialéctica dos males - isto ao mesmo tempo que, sem hesitação ou angústia, vão oferecendo a sua pronta colaboração.
Digamos isto de outro modo: o patriotismo é um sentimento útil e valioso se nos serve de base para partilha e para cooperação entre aqueles que o nutrem; mas é um sentimento inútil e perigoso se a ele servimos em holocausto a nossa liberdade e o nosso discernimento, se ele se torna num obtáculo à possibilidade de vivermos honradamente uma vida bem vivida, no sentido de vida com significado, num qualquer recanto do planeta.

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