Há um milhão de razões para se ir a um restaurante, embora no meu caso seja geralmente a sugestão da companhia. Em dois dias seguidos, e apesar da febre dos fenos, fui a dois muito "in" e por razões muito diferentes.
No primeiro caso negócios, rodeado que fiquei de grandes emborcadores de ostras a 20 euros a meia dúzia, e eu a ruminar uma saladinha com demasiada cor e demasiado vinagre balsâmico, antes de um austero salmão fresco caramelizado em mel (soa mal, mas sabia deliciosamente bem), tudo engravatado, tudo empenhado em discutir os números do PIB, tudo com muita conversa derrotista enquanto se multiplicavam as solicitações de mais "fines" e de mais "creuses". Como foi uma potência estrangeira que pagou e eu não ajudei à festa e praticamente nada disse porque a rinite o impedia, as coisas não correram mal. Nem uma única mulher bonita na sala.
Ontem, no já estafado Pátio Bagatela, amigos levaram-me a um restaurante muito "branché" no local onde eu julgava que vegetaria ainda uma casa de bolos. Agora é mesmo restaurante, comida sofrível, bifes da testa do boi, molhos insípidos, sobremesas à lagareiro, etc.. Em contrapartida, um impressionante desfile de "jeunes filles en fleur", a fazerem-me sentir velho e desesperado com os meus choros e espirros, e as gargalhadas límpidas dos verdes anos a rasgarem a surdina recurva com que discutíamos ainda, "en petit comité", os números do PIB. Achei a escolha boa, porque a conta se apresentou compatível com as possibilidades da economia nacional – e nenhuma sobretaxa por podermos contemplar as Gilbertes e Albertines que percorrem, como pólen, as primaveras lusitanas.
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