O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Crónicas Estivais: Dia 18

Se num Agosto cinzento saímos da água com o peito transido, os pés doridos, os calções pesados da areia da rebentação, uma onda nos empurra para terra e outra, mais feroz ainda, nos puxa de volta, e saímos para secarmos ao vento norte – há um vírus que entrou em nós e nunca mais sai, um padrão de identificação íntima daquilo que são, em termos tão físicos, somáticos, que se tornam inefáveis, o mar e o verão.
Diz o código do «beach bum» que, quando a areia se prende e infiltra entre os dedos dos pés já não conseguimos sacudi-la – e por isso não devemos sair da praia, sob pena de ser ela que não mais sai de nós. Durante muito tempo imaginei-me a consentir-me a mim mesmo alguns dias por ano de imersão nesse código (nunca passei da imaginação – mas imaginar isso já é o gozo quase todo); durante muito tempo tomei-o como modo de ganhar inércia para atravessar outro inverno (uma espécie de «tow-in surfing» à la Laird Hamilton, já que falamos de imaginação).
Este ano estive numa praia que não senti como praia, diante de um mar tão pachorrento que não o visualizei como mar – uma experiência estranha entre gente estranha que sonha com mares decalcados de piscinas.
Vou de baterias quase descarregadas em direcção ao inverno.

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