"Tudo trazido de França", fita-me severamente, a ver se me dissipa a distracção, "tudo francês, mesmo o que julgamos português". Não sei se a observação é lamento ou consolação, a mim não me atinge, céptico que sou desta terriola de falsos ricos-homens, infanções e cavaleiros, uma Vila Pouca de recoveiros, almocreves e arrieiros.
"Mesmo o vate, mesmo o vate", persevera. "E quem não o sabe?", contraponho. "Veja aqui, e medite", a passa-me para as mãos um exemplar de Jean Parmentier, de 1531 (eu por livre associação penso em «hachis parmentier» e aguça-se-me o apetite, afinal aqui no redil já não cheira a cevada queimada). "Leia o título todo, leia!". E eu leio: Description Nouvelle des Merveilles de ce Monde, & de la Dignité de l'Homme, composée en rithme francoyse en maniere de exortation, par Ian Parmentier, faisant la derniere navigation avec Raoul son frere, en lisle Taprobane, autrement dicte Samatra.
"Impressionante, de facto", mas estou a aludir aos caracteres romanos que me lembram os de Giovanni Simonetta em Comentarii rerum gestarum Francisci Sfortiae, uma das pièces de résistance lá no meu modesto solar de Vila Pouca.
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