O novo Ashram minimalista

sábado, 1 de setembro de 2007

Cronica de Agosto 9 - A lia de Abril

Aqui, desta varanda sobre o oceano, chegam-me uns ecos ténues de notícias abrileiras.
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Um, a redescoberta daquele épico documentário sobre a ocupação da Torre Bela. A não perder: pelas pequenas amostras que têm emergido em documentários da época, é um dos mais eloquentes e tragicómicos testemunhos do charivari anti-latifundiário, umas das pedras de toque de um país assomando das brenhas em toda a sua brutidão impetuosa, em todo o veneno da sua tacanhez aldeã, em delírios de indigestão ideológica, em embriaguez de directório va-nu-pied. Volto ao ponto quando vir a filme.
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Outro, a presença de Zédu no velório de Holden Roberto – a honra entre bandidos, aqui necessariamente acompanhada de algumas lágrimas de crocodilo. Um morre sem se ter feito justiça, o outro para lá caminha – embora a esperança seja a última a morrer.
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Noutros tempos erguer-se-iam vozes a recordar às gerações presentes e futuras quem foi Holden Roberto, à falta de um castigo para exemplo e memória. Agora o país anda ensandecido com o fait-divers de tonalidade policial, uma espécie de triunfo do Correio da Manhã e do espírito «flic». O país tornou-se, com todo o mérito, o herdeiro dos ocupantes da Torre Bela. Podemos todos limpar as mãos à parede.

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