Na praia procuro a sombra a todo o preço, só saio dela muito rapidamente para alguns mergulhos na água gelada e regresso à sombra sem qualquer compulsão para «secar-me ao Sol»; quando o Sol vai a pino já me recolhi, e, para mim, uma leitura ou uma sesta debaixo de um tecto é algo de muito mais alegremente estival do que a confusão na areia escaldante, a inalar aquele pot-pourri de cheiros enjoativos dos cremes solares, a calcular as probabilidades de apanhar com uma bola nos costados ou – horror dos horrores – a ouvir, seja gente a berrar ao telemóvel as delícias do escaldão em potência (às vezes penso que o telemóvel seria dispensável, dado que se ouve de certeza no destino), seja grupos de condidadãos que, na ausência de um baralho de cartas, se consolam a discutir futebol e a pequena Maddie. Regresso no fim da tarde, quando regresso, e lá me cruzo com os alegres torresmos, rubros e luzidios, de telemóvel em punho e, se lhes sobra uma mão livre, de raquete de madeira, enquanto no peito lhes chocalha, a uma cadência charolesa, o molho de chaves pendurado de uma fitinha com dizeres publicitários.
Mesmo assim, a maldição não me poupa, e já não sei se é na areia, se é nalgumas muito pulmonares caminhadas pelos arredores – o facto é que os meus genes berberes se acendem ao mínimo reflexo de luz e lá me deixam involuntariamente tisnado. Devia haver um banco no qual se pudesse depositar o excesso de bronzeado; eu fá-lo-ia gratuitamente, a favor daquelas jovens que desesperam, prostradas ao Sol, com o tempo infinito que leva a ficarem encardidas e feíssimas.
1 comentário:
Amen, quanto ao final: considerando os óleos bronzeadores que precedem o cozinhado, quem terá metido naquelas cabecinhas mais bonitas por fora que por dentro, que a Mulher ideal passa pela transição do toucinho para o carvão?
Abraço
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