(Re)colocado pela Consoror Charlotte na categoria de «pai insuportável» (cfr. Sol / Tabu de 25/8), resigno-me a integrar o batalhão de "género de pai que envergonha os seres humanos em geral", confessando que uma parte muito apreciável do meu mês de Agosto foi gasto na mais monocórdica e entorpecedora chacha com a prole, entre baldes de areia, ancinhos e pás, e chapinhos nas ondas.
Eu sei que as mulheres "nunca gostaram de homens ridículos" (Consoror dixit), mas eu, confortado porventura com a consciência de já não perder casamento com uma mulher que, descubro agora, me tem caridosamente poupado à revelação desse gosto partilhado por todo o género feminino, acomodo-me à situação – e assumo, sem muita vergonha, que o retrato lapidarmente traçado de «pai insuportável» me assenta como uma luva.
A idade fez-me perder a vergonha e a noção do ridículo, e, numa espécie de intuitivo cálculo custo-benefício, sinto que a gratificação emotiva que é proporcionada pela «conversa de chacha» é muito mais forte do que quaisquer penalidades correspondentes à transgressão do decoro e das demais convenções sociais.
Só tenho uma vida a viver, e nesta o ciclo da decadência é demasiado opressivo e confrangedor para eu não tentar, ainda que ao preço da anti-socialidade e da censura alheia, recuperar na infância dos que me estão próximos uma obstinada ilusão, a de que não fui ainda verdadeiramente expulso do paraíso, a de que não tenho que estar resignadamente vergado às sequelas da perda da frescura e da inocência, a de que há ainda algo de criança em mim.
Não se aflija, Consoror, que eu captei a ironia no retrato, mas mesmo que a não tivesse captado – olhe, que remédio teria eu senão resignar-me a ser um homem ridículo e um pai insuportável, se esse é o preço a pagar pelo gozo e partilha da forma mais impulsiva, fresca e pura de amor?
Se caísse em mim e meditasse no ridículo, poderia porventura mesmo argumentar, em meu favor, que a «conversa de chacha» talvez seja um casulo, um muro de ininteligibilidade atrás do qual aquela forma incondicional de amor se protege contra as intrusões de um mundo excessivamente adulto e racional – e decaído.
Eu sei que as mulheres "nunca gostaram de homens ridículos" (Consoror dixit), mas eu, confortado porventura com a consciência de já não perder casamento com uma mulher que, descubro agora, me tem caridosamente poupado à revelação desse gosto partilhado por todo o género feminino, acomodo-me à situação – e assumo, sem muita vergonha, que o retrato lapidarmente traçado de «pai insuportável» me assenta como uma luva.
A idade fez-me perder a vergonha e a noção do ridículo, e, numa espécie de intuitivo cálculo custo-benefício, sinto que a gratificação emotiva que é proporcionada pela «conversa de chacha» é muito mais forte do que quaisquer penalidades correspondentes à transgressão do decoro e das demais convenções sociais.
Só tenho uma vida a viver, e nesta o ciclo da decadência é demasiado opressivo e confrangedor para eu não tentar, ainda que ao preço da anti-socialidade e da censura alheia, recuperar na infância dos que me estão próximos uma obstinada ilusão, a de que não fui ainda verdadeiramente expulso do paraíso, a de que não tenho que estar resignadamente vergado às sequelas da perda da frescura e da inocência, a de que há ainda algo de criança em mim.
Não se aflija, Consoror, que eu captei a ironia no retrato, mas mesmo que a não tivesse captado – olhe, que remédio teria eu senão resignar-me a ser um homem ridículo e um pai insuportável, se esse é o preço a pagar pelo gozo e partilha da forma mais impulsiva, fresca e pura de amor?
Se caísse em mim e meditasse no ridículo, poderia porventura mesmo argumentar, em meu favor, que a «conversa de chacha» talvez seja um casulo, um muro de ininteligibilidade atrás do qual aquela forma incondicional de amor se protege contra as intrusões de um mundo excessivamente adulto e racional – e decaído.
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