O novo Ashram minimalista

sábado, 1 de setembro de 2007

Cronica de Agosto 13 - Torga e a desilusao

Belíssimo documentário na RTP2 sobre o centenário de Miguel Torga.
Momento mais alto? Aquele em que António Barreto coloca o dedo na ferida: difícil, impossível porventura, pensar-se em «portugueses» e «Portugal» àquele nível de generalização, soa a revestimento postiço de um panteísmo telúrico que decerto dispensaria a recobertura da política ou do determinismo geográfico. É possível amar-se, ou sentir-se compaixão, sem universalizações? Creio, por mim, que não há sequer outra forma de amar sinceramente, seja as pessoas, seja os lugares: amar implica, se não significa mesmo, renunciar-se a essas universalizações.
O momento mais baixo cabe também a António Barreto, ao referir-se ao Torga dos anos 70-80, sustentando que ele se sentia velho, deslocado, excluído desse mundo – e que depois de ter lutado 60 anos pela liberdade política ela tinha chegado com ele já esquecido, remetido à penumbra, e que isso lhe terá causado grande sofrimento. António Barreto não foi capaz de usar a palavra óbvia, a palavra que Torga não hesitou em utilizar: «desilusão». Desilusão, ou algum dos vários sinónimos possíveis para o termo, resume o sentimento de Torga com o «Portugal de Abril». António Barreto, que não é parvo nenhum, sabia disso, faltou-lhe apenas a coragem para admiti-lo, para dizê-lo.

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