O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Cronica de Agosto 7 - Vitam impendere vero, Juvenal, Procopio

Dedicar a vida à [demanda da] verdade. Uma máxima de Juvenal que já animou muita gente honesta ao longo dos tempos. Lembrei-me dela por causa de um honradíssimo, prestigiadíssimo, devotíssimo e remuneradíssimo Presidente de um Banco (a gente conhece-se e não se grama...) que veio declarar, solene, na RTP1, que havia uma proposta sua que tinha que ser aceite senão demitia-se, porque é um homem de palavra, porque as pessoas confiam nele e ele não trai a confiança, blá, blá, blá, blá. Poucas horas depois retira a proposta «vital» e – obviamente – não se demite. As pessoas que confiaram fizeram bem em confiar, afinal é ainda somente a segunda vaga de «trouxas» (e não param de nascer mais trouxas, como o constatava o cómico W.C. Fields).
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Você já ouviu falar dos cus-de-Judas? Eu havia de tê-los tatuados como um mapa no peito se o tio Tibúrcio (grande homem, impecavelmente engomado, o crachá do Aeroclube na lapela, o peito bombeado pelas memórias de mil refregas com as cabeleireiras de Benfica) não me tivesse advertido contra essas mariquices das tatuagens (não há-de ser afilhado meu que há-de dar em larilas com essas pinturas, dizia, guardando o pente no bolso). Sai um moscatel para a Senhora, e para mim um gin tónico, ó Juvenal!
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A cena passava-se no Procópio, há gente para a qual um Juvenal que serve bebidas e salgadinhos chega e sobra. Batem no peito, são muito anti-relativistas, muito bentinhos da Rua dos Fanqueiros, mas da verdade retiveram somente a sua dimensão mais abjectamente dissoluta, recoberta da habitual cobardia moraleira e fanfarrona.
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Tibúrcio, um torniquete na veia do esquecimento, uma bala tracejante nas noites da terra quente. Não é nos cus-de-Judas que se venera este tipo de coisas? Os viajantes que demandavam o Preste João relatavam que no Nilo os crocodilos choravam depois de devorarem cristãos, e que por sua vez os cristãos da Abissínia, entre muitas outras bizarrias, tinham a de erguerem altares a Pôncio Pilatos.

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