O novo Ashram minimalista

domingo, 17 de junho de 2007

Sim, Contra Joyce

Pergunta a Consoror Charlotte o que significa ser «contra» Joyce:
"Significa que, no caso de Joyce, teria sido benéfico se não tivesse escrito Ulysses, por exemplo?
Significa que se Joyce não tivesse existido, a literatura contemporânea seria melhor?"
+++
Surpreendo-a decerto respondendo afirmativamente à primeira, e negativamente à segunda. Melhor seria, para o meu entendimento do processo cumulativo que é o cânone literário ocidental, se Joyce não tivesse escrito Ulysses, e menos ainda a ininteligível mistificação, com laivos de onomatopeia interminável, de Finnegans Wake. Dispomos de uma atenção limitada e de recursos escassos para tirarmos proveito cultural da literatura (começando pelo tempo finito). Há obras que são uma pura perda de tempo, e estas duas de Joyce (mas não algumas anteriores) são, in my humble opinion, perdas de tempo (nem consigo por empatia penetrar no processo mental que permite a alguém «engrenar» no stream of consciousness do Ulysses, ou perceber a barragem de alusões locais e intraduzíveis, ou os tiques e private jokes, talvez nem mesmo um contemporâneo irlandês habituado à vizinhança da Martello Tower). Excepciono o monólogo de Molly Bloom, e mesmo esse ganhava em ser menos deselegante, a crueza fá-lo soar (aos meus ouvidos, claro) inautêntico.
+++
Que quer, Consoror, são gostos, e nesse ponto não consigo seguir os panegíricos anglo-saxónicos a propósito de James Joyce.

4 comentários:

Pedro Botelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Botelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Botelho disse...

Dispensando de resposta detalhada a parte final (e mais mal educadota) do seu comentário, algumas entradas mais abaixo, sempre lhe lembro que o seu pensamento sobre a questão da Palestina tem sido afixado num sítio público com solicitação aberta de comentários. Para quê se não os deseja (*)? Adiante. Não vale a pena perdermos muito tempo com a ausência de argumentos. Passemos aos seus vestígios.

«Quem foge para o Egipto não pode regressar?»

Claro que não. Em que mundo vive? Não desce de vez em quando à terra quando a ira acalma e os impropérios vácuos se esgotam? Então nunca ouviu falar no princípio do não-retorno dos palestinianos (mesmo dos que lá nasceram e viveram até à expulsão pelo terror) que complementa o príncipio do retorno dos judeus (mesmo e sobretudo -- por inacreditável que pareça -- dos que lá não nasceram, nem viveram, e nem nunca sequer lá estiveram de visita)?...

«A admissão desse facto bastaria, mas acresentemos a constatação de que, numa aflição, os palestinianos optam por fugir para o "inimigo" (ahahahahahahah, que argumento brilhante!)»

«Bastaria» para quê? Para se perceber que o seu conhecimento da questão é de tal forma superficial que nem sequer lhe tinha ocorrido uma resposta óbvia às divagações da sua própria imaginação? Mas a propósito desse seu curioso conceito de «fuga para Israel», seria muito interessante saber onde é que observou os beijinhos, abraços e comissões judaicas de boas-vindas e dispensa de vistos na fronteira para os palestinianos da Fatah ou do Hamas (ou quaisquer outros). Não pode especificar?...

«Quanto a "processos de intenções", esclareço já: enviava, não para a Lapónia - território simpático - mas para os confins da Sibéria ou do Gobi, não os palestinianos, mas aqueles bandos de terroristas que os oprimem e agora os chacinam»

Não diga isso muito alto, porque o mundo ainda vai dar muitas voltas e parece que o Birobijão ainda não desapareceu de todo, apesar do novo «lar nacional» no Médio Oriente...

«e juntava a esses terroristas o trio de melgas emmerdeuses que assina com o ridículo pseudónimo Botelho.»

Reler a introdução acima depois de lavar três vezes a boca com sabão, hem, hum, macaco... ;^)
__________________

(*) Se não os deseja, ou os deseja apagar individualmente (como é seu direito), manda a mais elementar boa educação que apague também os seus próprios comentários aos que os seus leitores têm a amabilidade de lhe enviar, e não unicamente os deles deixando ficar os seus como se não tivessem tido qualquer contrapartida ou resposta.

Pedro Botelho disse...

«os palestinianos optam por fugir para o «inimigo» (ahahahahahahah, que argumento brilhante!)»

Para o ajudar a perceber, e a propósito do seu cliché dos palestinianos a procurar refúgio nas zonas da Palestina sob controlo judeu directo (aquilo a que chama «Israel» e os territórios ocupados com presença militar próxima) em vez do estrangeiro, considere o seguinte: o conflito -- dado o carácter judeu do estado imposto a uma população fortemente não-judaica e mantido por uma constante imigração judaica e uma cada vez maior criação de dificuldades básicas à população não-judaica autóctone -- reveste-se de características únicas no mundo e, tarde ou cedo, a questão nacional será decidida em primeiro lugar pelos dados demográficos. Por isso se percebe que, dada a história conhecida dos refugiados passados a quem se recusa o retorno, qualquer fuga de zonas de guerra a que a heróica população palestiniana é obrigada seja por ela subordinada em todas as circunstâncias, mesmo as mais abomináveis, ao não abandono da sua pátria.

Ajuda?

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