O novo Ashram minimalista

sábado, 13 de outubro de 2007

Joao Coito

Lembro-me em miúdo do seu estilo muito formal, muito zeloso na sua subserviência, algo ridículo no tom enfático que adoptava, com o seu sotaque beirão: "Xua Excelênxia o Xenhor Prejidente do Conselho falou com xeguranxa, e dixe...".
Mas são as ocasiões que revelam os homens. Vítima do saneamento selvagem liderado por aquele Saramago de que se fala, passou a projectos jornalísticos de pouca expressão pública e de fraca tiragem, mas em todos exprimiu invariavelmente, num primor de clareza, uma perfeita coragem pessoal e cívica, um desassombro invulgar.
No ambiente de mercenarismo reles do jornalismo português (antes e depois de 1974), no meio do guincho das ratazanas acobardadas e da azáfama dos vira-casacas que renasceram abrileiros, ele soube manter-se fiel à palavra dada e à ideia tida.
Se não tivesse vindo o 25 de Abril talvez tivesse terminado a sua carreira como um obscuro funcionário de propaganda; assim teve a oportunidade de travar o bom combate e de dar a medida do seu carácter, mesmo que a afabilidade dos seus modos e a lisura do seu feitio não o tivessem predisposto para grandes e prolongadas pelejas, e o tivessem levado a poupar (a meu ver inutilmente) muitos traidores que ele conheceu.
Como se dizia nos tempos marcelistas que ele serviu, ele não desejou a guerra nem a temeu. Não perdeu a oportunidade que ela lhe dava de mostrar-se um Grande Senhor. Não transigiu na sua dignidade pessoal e profissional. Paz à sua alma.

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