
Não nutro, confesso, grande simpatia pelas religiões orientais – talvez para preservar o pouco que me resta de simpatia pela minha própria religião. Mas sinto grande respeito pelo Dalai Lama, um homem notável da História do Século XX transformado, malgré lui, num símbolo da luta contra o imperialismo chinês, e o depositário vivo de uma tradição de atitudes de contemplação, irenismo e autenticidade.
Vi-o à noite a verberar suavemente, com um sorriso, a cobardia do Governo português e a cobardia do ocupante do Palácio de Belém: isto bastaria, mas lembrei-me do seu retrato no Kundun de Martin Scorsese, e senti por isso que aqueles poucos segundos deram um significado invulgar ao meu dia; estive a poucos metros de um dos poucos símbolos vivos do planeta que não se notabilizaram na prática do mal.
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