Sento-me molemente diante da televisão, aqui nestas longes terras, e vejo um painel com umas palmas espalmadas nuns moldes em bronze, e uma "curadora" (espécie que devia ser reservada à produção de queijos) a anunciar que se trata de um monumento à República.
O que é que uns cascos moldados em bronze nos dizem sobre a República?
Irá o painel disputar primazia com o imorredoiro monumento de expressionismo fálico que simboliza o 25 de Abril?
Irá a Coroa Britânica processar-os por acumularmos aberrações inestéticas num parque que ainda leva o nome do Príncipe de Gales (inexplicavelmente, ainda ninguém se lembrou de lhe chamar parque Catarina Eufémia)?
Não poderia estabelecer-se uma moratória (de um século pelo menos) na edificação de monumentos em Lisboa?
Não poderíamos exportar, a preços módicos (ou mesmo com uma subvençãozinha nossa) os nossos "artistas"?
É nestas alturas que me sinto mais luterano / calvinista / maometano: devemos abster-nos de representar ou celebrar simbolicamente as coisas que mais respeitamos. Por mim, respeito Lisboa, respeito Eduardo VII, respeito a República – gostaria que a idolatria e a iconolatria ficassem exclusivamente centradas no glorioso 25A, talvez com uma sub-secção dedicada às glórias da nossa adesão ao Euro (no pedestal gravados os discursos de 1999 a 2002, e os cascos dos europeístas em bronze).
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