O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Xylofene político; ou, no fim sou eu que não presto


Na viradeira dos últimos dias temos visto entrar em transe, como sempre entra, muito "Adventista da 23ª Hora" e muita "Virgem Refeita". E mesmo os ícones mais encardidos têm sido desinfestados, desempoeirados e polidos ao seu pristino fulgor – como também invariavelmente sucede. O fervor predomina.
Na voragem tropeça-se na memória, contudo, e essa às vezes é embaraçosa.
Há uns anos uma pessoa dirigiu-se a um serviço que eu mais ou menos ordenava, a oferecer os seus préstimos. Como essa pessoa era jubilada, estava entendido que ofereceria gratuitamente os seus talentos. Antes de sair pede para dar-me uma palavrinha, e a palavrinha era a ver se arranjávamos um meio de lhe pagar por debaixo da mesa. Como eu gosto muito de situações dessas, comecei logo a gozar o prato e disse que tinha que haver papelada; sugeriu então a venda de bens inexistentes, digamos assim o equivalente a uma facturação falsa. Pessoa inteligente, a certa altura alega pressa e sai; até hoje, e já lá vão mais de dez anos, estamos (melhor: outros estão) à espera do brinde dos seus talentos.
Nos últimos dias vi que aspergiram Xylofene nesse ícone outrora carunchoso, e vejo-o agora a brilhar imensamente por sobre a Grei.
A democracia é assim: renova, releva, refaz, redime, repristina.
Mais uma razão para, durante a viradeira, estarmos todos compelidos a não dizer mal dos novos santinhos, fresquinhos e engomados que surgem nos altares da devoção popular.
Todos, não, que há sempre um ou outro como eu: que não presta, que diz mal, que só se lembra de inconveniências.

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