Nada como os momentos mortos, de espera, sem distracções, que entrecortam as viagens, para nos angustiarmos com aqueles grandes problemas que latejam e que afadigadamente escondemos na nossa rotina.
Pus-me a pensar nisso num quarto degradado de um grande hotel em Copacabana, e de como sonhei uma cidade diferente, e de como teria gostado de partilhar a sua descoberta, e de como assim, na fria indiferença da viagem de trabalho, passou a contar somente o facto de estar a chover, e de eu não encontrar dentro de mim qualquer forma de redenção para esse facto.
Sei que amanhã voltarão a azáfama, o alarido, a retórica, a pose e as vénias e os aplausos, mas nada disso reporá este vazio inexplicável do viajante forçado, caído num cenário cuja beleza se perdeu, numa perda que pode ser somente a do próprio olhar, ou o aflorar de algo mais vasto e preocupante por entre as brechas da rotina.
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