Há quem construa toda a sua reputação mundana com base no whisky e na cerveja, empunhando-os em desafio à temível parelha «Hypnos / Thanatos», numa espécie de pacto fáustico que deixa o fígado na posição de avalista (um pacto fidejussório, só para connaisseurs).
Mas há os que, mais discretamente, apreciam os lírios do campo, os banhos de sol, o recolher obrigatório. Para esses há a voz de Mel Tormé, a estética da «lounge music», os Ray-Ban, tudo acompanhado da mais demodée e suave das bebidas espirituosas, o Lillet.
Rouge ou Blanc, o Lillet é como cetim roçando a pele: assumidamente refrescante e com alusões ao Cointreau, se branco; veladamente erótico no tinto, se a apresentação «on the rocks» liberta as notas de Cabernet e Merlot que nele se abrigam.
O Lillet triunfou numa era em que o «innuendo» e o «double-entendre» correspondiam às vénias que a hipocrisia reservava aos impulsos carnais – uma hipocrisia deliciosamente repressiva, longamente saboreada, ambígua.
Deixemos, pois, a vulgaridade, e os vermutes, para as pessoas sem imaginação.
A beber-se gelado, em abundante companhia, e com vista para um pôr-de-sol.
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