O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Faunos no Bosque, ou, o corridinho do Polanski

Noutro lugar, a Consoror Charlotte interroga-se sobre o mais recente "escândalo Polanski", que se cinge à questão epistemologico-transcendental seguinte: pode um artista ser pedófilo? Isto é, juridicamente pedófilo? (AQUI). Observei:

"Receio ter que me repetir:
Roman amigo, devias ter vindo directamente para Portugal e nunca deverias ter saído de cá. Tinhas comprado casa no Restelo, de manhã saías a dar uma voltinha pelos pastéis de nata e logo ali davas de caras com engajadores de mão-de-obra infanto-juvenil – que, ao que consta, ainda por lá andam, alegres da vida. Terias sido imensamente popular, e o Governo da altura ter-te-ia atribuído, sem sombra de dúvida, uma sinecura regiamente remunerada, como faz prontamente com cineastas infinitamente menos talentosos do que tu.
Talvez um magistrado mais zeloso te tivesse tentado atrapalhar a vida, mas não menos prontamente o bronco se veria submerso no sarcasmo impiedoso que já esmagou uns polícias que se indignaram com as obscenidades pictóricas de Courbet.
Aqui tem-se respeitinho pela arte, qualquer arte, mais respeitinho do que em qualquer parte do mundo.
Aqui a justiça não funciona, ou funciona pior do que em qualquer outra parte do mundo.
Aqui toda a gente se indigna sinceramente com a pedofilia, mas toda a gente tende a alinhar com aqueles que processam as vítimas depois de se safarem por algum estratagema processual.
Tu és artista, Roman, tu és poderoso e amigo de poderosos, Portugal era, sempre foi e continuará a ser o teu destino natural (se me permites este desabafo off the record, acresce ainda que aqui somos impiedosos com as vítimas e só lhes reservamos lágrimas de crocodilo – afinal, quem as mandou serem vítimas, e quem as autorizou, já que são vítimas e não há remédio para isso, a beliscarem a reputação de poderosos e de artistas?).
Quando chegares, cuidado apenas com os pastéis – há que não abusar deles.
"

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