O novo Ashram minimalista

domingo, 20 de setembro de 2009

Crónicas Estivais: Dia 29

Deixei para trás a Internet mas trouxe o computador. Não resisti, por isso, a encher os vazios com o visionamento de alguns filmes e documentários (geralmente a altas horas), com alguns apontamentos (estas «crónicas») e com a leitura da enxurrada de artigos em que se apoia o «work in progress».
Em teoria, é um erro, a ideia das «férias grandes» é a de uma quebra radical de rotinas que consiga ter um efeito retemperador. Talvez se dê o caso de eu estar viciado nalgumas rotinas e por isso não conseguir já esse corte radical – menos incapaz, todavia, do que alguma rapaziada que tropeça nas pedras da praia por andar a dedilhar freneticamente o Blackberry (uma dúzia vi eu na minúscula praia em que andei desterrado este ano).
Por outro lado, esse vício vai contra as minhas convicções (como é suposto que, por definição, todos os vícios vão). Cheguei a uma fase da vida em que o amor das grilhetas da minha realização profissional deixou transparecer muito nitidamente o seu carácter alienador – a uma fase em que, portanto, se tornou crucial apreciar o vazio da inutilidade sobre o qual lançam raízes as coisas que verdadeiramente importam, coisas que reclamam um patrocínio na sua luta desigual contra a rotina.
Deve ser por isso que as férias gravitam em torno do simbolismo do «regresso à natureza», colocando-nos em condições de contemplação mais directa daquilo que se desenvolve a um outro ritmo do nosso, daquilo que sobrevive sem nos fazer concessões, daquilo que se impõe à nossa experiência independentemente dos juízos de utilidade e de «preenchimento» que lhe enderecemos.
Da próxima o computador fica também para trás.

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