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Lembrei-me disto porque faz agora um ano acompanhei o caso de um miúdo «com problemas». Aos 18 anos, o que é que significa «ter problemas»? Uma tal avalanche de complicações, de confusão, de ansiedade e sofrimento para os que o amam, de desnorte e falta de horizontes, de vazio, de impasse, de angústia, de enganos e mentiras, de infracções – que a concentração de tudo isso num tão lacónico eufemismo, «tem problemas», traz ao espírito aquelas singularidades cósmicas de densidade infinita, das quais nem a luz escapa.
Aqueles que sabem aquilo que se abriga no eufemismo recuam perante a força gravitacional dessa crueldade adensada, quando ainda lhes resta o distanciamento necessário para fazê-lo. O eufemismo passa a ser o equivalente verbal desse desvio do olhar que a sobrevivência e a sanidade reclamam de nós: um jovem adulto «com problemas» é, na verdade, uma tragédia de contemplação insuportável.
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