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Perdi-o de vista mas depois uma amiga comum reaproximou-nos, e seguiu-se uma dúzia de anos de convívio intenso com uma das pessoas mais desequilibradas mas mais generosas e disponíveis que conheci.
Era um convívio angustiado, porque eu sabia muito bem para onde queria seguir com a minha vida e a minha profissão, mas ele, no meio dos pilares sólidos da sua educação e das suas convicções religiosas, era um navio à deriva com os motores na rotação máxima, predisposto para o desastre. Confesso ainda que nunca descontraí o suficiente para abstrair do impacto que alguma irreflexão minha podia ter no despoletar daqueles demónios temíveis que lentamente o foram devorando.
Aprendi a respeitá-lo – e respeito não era um sentimento que inspirasse a muita gente (havia mais medo, comiseração e repulsa). Um dia saturei-me, apesar do respeito, e voltei a perdê-lo de vista.
Dizia a terceiros que eu o tinha ensinado a defender-se, e, como omitia que estava referir-se ao boxe, as pessoas vinham intrigadas perguntar-me o que é que ele queria dizer. Partiu há um ano e eu sinto o remorso de não ter tido a capacidade, a paciência, a boa sorte até, de lhe ter ensinado a defender-se de mais coisas do que de alguns golpes de punhos desferidos com lealdade.
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