O novo Ashram minimalista

terça-feira, 14 de julho de 2009

Uma Direita Revisitada?

Um dos blogues que leio tem desenvolvido alguns exercícios crepusculares de reflexão sobre a presença da «direita» on-line (e especificamente na blogosfera). Diz reflectir sobre os «problemas» dessa «direita», e com algumas reflexões eu concordo, embora não descortine os referidos «problemas», até porque nada me mobiliza para a «vitalidade», ou a «ausência de problemas», dessa «direita» (aí as minhas perspectivas e as do autor desse blogue divergem radicalmente).
Confesso que reencontrei essa «direita» com alguma curiosidade, tantos anos volvidos depois de a ter abandonado, mas cedo ela me fez relembrar as razões pelas quais eu tinha partido, adicionadas agora a novas, e perturbadoras, razões.
Impressionou-me muito o abaixamento do nível cultural dos protagonistas mais sonoros, e a degradação do referencial patriótico tradicional, a benefício de importações ideológicas e simbólicas das principais tribos do «radicalismo europeu».
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I- Impressionou-me mais ainda a adolescente falta de ambição cultural e de fibra moral:
1) a veneração de todos os «losers» que a nossa sociedade foi produzindo nos últimos 50 anos, os bons e os maus, os românticos sonhadores mas também os pseudo-marginais e os pseudo-literatos;
2) o afunilamento dos ideais estéticos às exíguas produções de uma certa clique pseudo-clandestina;
3) a cumplicidade com todo o tipo de profanações idiotas do nosso adquirido civilizacional;
4) o completo desprezo pela realidade e pelas restrições que ela impõe à racionalidade do discurso e da conduta;
5) o estranho convívio do passadismo com a quase total ignorância das referências do passado;
6) a atordoante litania de frases e ideias feitas e estafadas, sem um assomo de crítica ou uma intenção evolutiva;
7) o espírito de facção e de matilha, os cambados e ventripotentes mandarins a aliciarem jovens crédulos com promessas de promoções sem significado;
8) a total incongruência da denúncia da partidocracia, verdadeiramente caricata quando provinda de partidos minúsculos que se afadigam a imitar os partidocratas nos seus mais notórios e detestáveis tiques.
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II- Em suma, a nossa «direita» tornou-se, nos últimos 30 anos:
1) envergonhadamente racista, porque não saberia compatibilizar o racismo com o nosso passado colonial;
2) envergonhadamente xenófoba, porque não saberia compatibilizar a xenofobia, quer com as suas próprias servidões ideológicas, quer com a política de emigração do Dr. Salazar;
3) envergonhadamente fascista, preferindo apresentar-se como «identitária» a «pan-europeísta» ao estilo Waffen-SS, e venerar charlatães como Degrelle a revelar a recôndita idolatria de Hitler (mesmo que envergue as camisetas 88 e se carregue de tatuagens reveladoras);
4) envergonhadamente anti-semita, preferindo (sabe-se lá a que custo) seguir a agenda esquerdista de denúncia das alegadas violências sionistas cometidas na Palestina;
5) envergonhadamente anti-Yankee, preferindo subscrever qualquer tipo de teoria conspirativa (do Clube de Bilderberg ao «Loose Change») a assumir um debate lúcido sobre o que deve ser a posição portuguesa no concerto das nações;
6) envergonhadamente tirânica, preferindo abrigar-se na causa comum das carpideiras de todo e qualquer tirano deposto ou criminoso de guerra capturado;
7) envergonhadamente misógina, afadigando-se na busca de umas quantas viragos capazes de desfazer a aparência exclusiva do «male bonding» (e, já agora, a simbologia «Tom of Finland»…), com o mesmo zelo com que os motards recrutam umas pin-ups para os seus jamborees;
8) envergonhadamente pagã, venerando secretamente, aos dias de semana, os seus Molochs-Baals, para, ao fim de semana, acender em contrição umas velinhas à Senhora de Fátima.
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Ora uma «direita» assim, tão envergonhadota, não é carne nem peixe – nem talvez possa, ou sequer deva, sê-lo, em tempo de paz cívica, num tempo em que a pressão da realidade lá vai garantindo o que gerações anteriores reclamaram – e o reclamaram tantas vezes sob o pendão ideológico da «direita».
Uma «direita» assim não interessa. Agradeço à blogosfera a possibilidade de tê-lo reconfirmado, com mais vigor ainda, tantos anos volvidos.
Remato com uma observação que dirigi já não sei a quem, no ardor de algumas escaramuças que tive ainda com alguns desses paladinos dessa «direita»: há por lá excelentes pessoas, darei sempre testemunho disso; as ideias é que não prestam – deixaram de prestar, por mérito próprio e por força das circunstâncias.

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