O novo Ashram minimalista

domingo, 14 de junho de 2009

Os falsos riscos do extremismo

Jogo de extrema-direita



Jogo de extrema-esquerda

A algumas meditações da Consoror Charlotte, repliquei:
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A extrema-direita é um fenómeno próprio de países que não têm, na sua memória colectiva, a marca recente de um governo ditatorial de direita. Nesses países a extrema-direita joga basicamente a cartada xenófoba, que costuma ser imensamente popular (do medo ao ódio do que não é «nosso» vai um passo), e toma por alvo os imigrantes, o que é uma forma de lisonjear o eleitorado («nós» somos os melhores, «nós» somos imensamente atraentes, «nós» somos invejados).
Nos países que lembram um recente governo ditatorial de direita o que impera é a ameaça da extrema-esquerda, que julga poder, num impulso de «morte do pai», reinstaurar o mundo através de uma hecatombe purificadora e iconoclasta – tomando por alavanca a visão romantizada de uma marginalidade «descontaminada» que condiciona o soerguimento de uma nova ordem à depuração de toda a ordem herdada (uma cartada irresistível para todos os inadaptados e ressentidos deste mundo).
O perigo de qualquer desses extremos depende, portanto, do antecedente histórico.
Em Portugal a extrema-direita não representa qualquer perigo, até porque verdadeiramente ela não existe: existem alguns fragmentos de saudosismo ferrugento, mas não casam com minúsculas bolsas suburbanas de racismo e xenofobia – são grupos muito pulverizados e que professam valores incompatíveis, pelo que jamais formariam uma frente.
Em Portugal a extrema-esquerda poderia representar o grande perigo, porque é atraente na sua radicalidade e verdadeiramente nunca foi testada – tirando partido, por isso, do benefício da dúvida.
Num país onde oficialmente só se dá voz à esquerda e à extrema-esquerda (mais uma ressaca da recente ditadura de direita), a servil adulação dos meios de comunicação tornaria a extrema-esquerda mais perigosa ainda, na medida em que ela representa uma fatia muito extensa do «establishment» ideológico.
Mas a própria extrema-esquerda não representa qualquer perigo real: é uma retórica, vale como retórica, e pouco ou nada afecta o mundo real, o mundo dos interesses, aquele que verdadeiramente conta e no qual as ideologias e as dicotomias partidárias deixaram praticamente de ter peso.
Se um dia extrema-esquerda ou extrema-direita chegassem ao poder, em Portugal ou na Europa, é porque já teriam deixado de o ser, é porque já teriam vendido a alma, as ideias, a troco de um mefistofélico ingresso no «mainstream».
Portugal, de resto, deu à Europa o mais eloquente exemplo do que acabo de dizer, quando exportou um maoísta para a presidência da Comissão Europeia.
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