Atraído por uma entrevista a Pedro Rosa Mendes, esperançado na leitura de mais umas verdades sobre o grande embuste que é Timor «Lorosae», comprei a LER.
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A entrevista é uma desilusão, e o mesmo direi da maior parte daquilo que se lê na revista: uma conversa muito desfocada, vagamente evocativa mas sem referencial evocador, uma incapacidade generosamente distribuída de tratar os temas com incisão, concisão e precisão.
Nalguns casos a pose «literata» tudo submerge, avassalada por uma ansiedade de demonstração de erudição e de «pertença ao milieu». Noutros casos dir-se-ia que é coisa congénita, uma ausência de ponto focal para as palavras e para as ideias.
Talvez seja excesso de leitura da parte dos que escrevem: tudo se dilui num sincretismo de alusões rivais, e a concentração sobre a realidade (porque afinal há um mundo fora das janelas, fora das linhas da prosa) parece ceder continuamente a uma cacofonia de solicitações estridentes – afinal, cada livrinho a empoleirar-se e a abrir o bico para assegurar a minhoca regurgitada pelo «crítico literário», num cru exercício darwinista que, glorificando-o, convencionámos designar por «literatura».
Prefiro os catálogos: dizem-me o número de páginas, a encadernação, o ano de edição e o preço – e não entram em devaneios foscos, preservam a minha imaginação de namorado, aquela que me motiva a comprar um livro de que pouco sei.
A entrevista é uma desilusão, e o mesmo direi da maior parte daquilo que se lê na revista: uma conversa muito desfocada, vagamente evocativa mas sem referencial evocador, uma incapacidade generosamente distribuída de tratar os temas com incisão, concisão e precisão.
Nalguns casos a pose «literata» tudo submerge, avassalada por uma ansiedade de demonstração de erudição e de «pertença ao milieu». Noutros casos dir-se-ia que é coisa congénita, uma ausência de ponto focal para as palavras e para as ideias.
Talvez seja excesso de leitura da parte dos que escrevem: tudo se dilui num sincretismo de alusões rivais, e a concentração sobre a realidade (porque afinal há um mundo fora das janelas, fora das linhas da prosa) parece ceder continuamente a uma cacofonia de solicitações estridentes – afinal, cada livrinho a empoleirar-se e a abrir o bico para assegurar a minhoca regurgitada pelo «crítico literário», num cru exercício darwinista que, glorificando-o, convencionámos designar por «literatura».
Prefiro os catálogos: dizem-me o número de páginas, a encadernação, o ano de edição e o preço – e não entram em devaneios foscos, preservam a minha imaginação de namorado, aquela que me motiva a comprar um livro de que pouco sei.
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Coisa gratificante, nos dias de calor, poder enterrar os dentes na polpa fresca de um pêssego, e deixar-se abandonar ao puro hedonismo do momento, sem reflexão. Imaginem trocar isso por uma revista sobre as marcas, as categorias e a calibragem dos pêssegos – tudo escrito no tom blasé de quem já comeu todos os pêssegos do mundo.
Coisa gratificante, nos dias de calor, poder enterrar os dentes na polpa fresca de um pêssego, e deixar-se abandonar ao puro hedonismo do momento, sem reflexão. Imaginem trocar isso por uma revista sobre as marcas, as categorias e a calibragem dos pêssegos – tudo escrito no tom blasé de quem já comeu todos os pêssegos do mundo.
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