Coisa bizarra: parece que se exige agora, aos polícias do Norte do país, não somente que conheçam a obra de Courbet, como ainda que se prostrem em veneração perante qualquer «obra de arte», de Courbet ou, presume-se, de qualquer «artista».
O argumento tem barbas (nenhuma alusão à tela sub iudice), e consiste em dizer-se:
O argumento tem barbas (nenhuma alusão à tela sub iudice), e consiste em dizer-se:
a - primeiro, que ninguém se define como artista por criar uma obra de arte, mas antes que a obra de arte é toda e qualquer emanação de alguém que socialmente adquiriu o estatuto de «artista»;
b - depois, que a «liberdade artística» prevalece, a legibus soluta, sobre qualquer cânone provindo de qualquer outra axiologia que não a «estética»;
c - por fim, que quem define «estética» é o novo avatar do «filósofo-Rei», o «artista».
Sucede que:
Sucede que:
1 - presumo que os polícias do Norte do país sejam gente honesta, trabalhadora e temente a Deus, e que a sua honradez e proficiência não dependa de terem aprendido a identificar Courbet, com um cúmplice piscar de olho;
2 - presumo que são gente que guarda cânones de pudor, cânones que não cedam ao alarido «criativo» do primeiro «artista»;
3 - presumo que não fazem parte daquela banda de néscios e «preciosas ridículas» que, de cócoras, venera a «falácia romântica» que pretende fazer-nos servos do «império da estética»;
4 - presumo que não se deleitam na perversa contemplação de um escancarar de coxas, como se estivessem a espreitar sobre o ombro de um ginecologista;
5 - presumo que saberão poupar-nos, aos demais, de termos que encarar com um vómito, um escarro, uma dejecção, uma chaga, um furúnculo, estadeados na praça pública sob o pendão inteiramente arbitrário de alguém que se arroga o exclusivo ditatorial de determinar, em nome da sua «estética», o cânone colectivo da decência.
Em conclusão: ainda bem que os polícias do Norte não conheciam Courbet, podiam estar agora a fazer figura de parvos, ao lado dos idólatras da «falácia romântica» que, sem se auto-criticarem, tão lestamente os criticam.
Em conclusão: ainda bem que os polícias do Norte não conheciam Courbet, podiam estar agora a fazer figura de parvos, ao lado dos idólatras da «falácia romântica» que, sem se auto-criticarem, tão lestamente os criticam.
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