O novo Ashram minimalista

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Uns minutos por dia, c'est tout

Há um tempo para semear, um tempo para recolher. Há um tempo em que vamos presos ao remo de uma galé e imaginamos um timoneiro. Um dia olhamos com mais atenção e percebemos que o timoneiro não existe. Começa o tempo do resgate, e o tempo que nos sobra devemos geri-lo na suave vingança do tempo perdido, buscando uns intervalos de reencontro com aquilo que teríamos sido se não fosse aquela juvenil ilusão de serviço a uma causa, ou a alguém – revivendo e recriando, de forma mais incondicionada, munidos daquele pequeno sucedâneo de omnipotência que nos é consentido pela rebeldia e pela imaginação.
Eu sei que a rotina é uma tempestade perfeita, que não autoriza o silêncio que seria essencial para voltarmos a ouvir a nossa voz interior, e com ela empreendermos aquele cauteloso e paciente esforço de resgate. Mas antes de morrermos atordoados numa canseira que não nos acrescenta um só minuto de vida, deveríamos ter tempo para parar, para respirar fundo, para olhar em volta.
No tempo para recolher percebemos que não é preciso ceder nada, nem renunciar a nada, porque há coisas que se eclipsam pela pouca importância que lhes descobrimos, coisas ruidosas que não chegam a entrar na equação. Recobramos tempo, o tempo que conta, nem que seja cinco minutos silenciosos a escrever três parágrafos numa resposta a velhos amigos.

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