O novo Ashram minimalista

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Um erro de identificação

Caro Confrade, estava errado. Nem eu caberia no retrato lisonjeiro (ao contrário da minha criatura virtual, sou mais irónico e jocoso do que assertivo), nem cultivo conversa de jurista (que, creia, só um não-jurista consegue apreciar), nem, confesso, frequento restaurantes de «espeto corrido» (arrastaram-me duas ou três vezes há uma dúzia de anos, nunca gostei).
Retenho a amabilidade de julgar-me esclarecido e enciclopédico, e de querer promover-me a autoridade no bom sentido (o sentido minoritário, num país a abarrotar de Pina Maniques frustrados). Retenho também a sua fortaleza dietética no meio das tentações, o que faz de si, mais do que o traje, um estranho numa terra estranha (como na bela expressão do Êxodo). E retenho ainda a curiosa opção de leitura, que decerto o terá predisposto para a detecção de jansenistas.
Já que parte, faço-lhe uma sugestão de leitura mais devota, ou menos ímpia – o desafio de alguém que, à constatação de que «o mundo tem destas coisas», responderia com a obstinação de quem busca a redenção como um fio de luz entre as trevas e o mal; alguém que nos convoca a pensarmos na subordinação à Graça e no sentido que isso confere à casualidade e ao absurdo; alguém que permite mesmo a descrentes suportarem, na edificação moral que é o exemplo dos outros, no suave milagre da coexistência, a estranheza na terra estranha.
Desculpe esta sugestão «assertiva», reconditamente é o desejo de o compensar pelo facto de ter errado na identificação.
Boa viagem!

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