O novo Ashram minimalista

sábado, 5 de julho de 2008

O declínio da Católica

Chegam-me uns panfletos da Universidade Católica a anunciar novos cursos. A surpresa não é total porque corresponde a uma tendência visível há mais de uma dúzia de anos: o declínio abrupto da qualidade do corpo docente, a trivialização dos curricula, o depauperamento e desactualização do acervo bibliográfico disponível. Mesmo assim é doloroso recordar a qualidade de outrora e contrastá-la com o nível exibido, em especial no corpo docente: uma crescente proporção de «biscateiros» sem carreira, sem obra, sem qualificações pedagógicas mínimas, sem produção científica (há sempre uma ou duas honrosas excepções).
A razão é óbvia: a falta de dinheiro e a necessidade de «apoios institucionais». Uns nomes sonantes da «nomenklatura» dão aulas gratuitamente e em troca fazem constar dos seus cartões de visita a condição de docentes universitários, e a instituição capitaliza com essa «gratidão curricular». É a muito notória simbiose entre PS e ISCTE, desgraçadamente a dar o exemplo a outras instituições até agora mais zelosas do seu prestígio.
Muito deprimente: não tarda nada temos o corpo docente da Católica ao nível do das demais «universidades» privadas, nas quais, como é sabido, os cadastrados escolares predominam e tendem a pontificar.

1 comentário:

ART disse...

Caro Jansenista,

será o defeito só da Universidade Católica?
Quer-me parecer que o seu comentário é facilmente generalizável às restantes entidades de ensino dito universitário. Fala-se imenso dos ensinos básico e secundário e da sua falta de qualidade ou problemas; cansa já ouvir os insultos aos alunos mais novos pelo facto de serem "analfabetos funcionais" e de não terem o minimo de preparação indispensável para serem gente. Tudo verdade, não vale a pena escamotear a ignorância e a estupidez que diariamente demonstram os estudantes. Mas, isto até já me arrepia, para quando a discussão do estado calamitoso do Ensino Superior (que de superior só mesmo o nome)? Para quando a discussão e o reconhecimento da realidade relativa ao facto de estar, neste momento, a ser a própria universidade a descaracterizar e a assassinar o valor do Conhecimento, do Mérito e da Ciência? Para quando o avanço das ideias de que este sistema universitário já não serve? Para quando a afirmação de que é intolerável ter professores universiários parasitas e parasitantes? Para quando um novo regime juridico dos docentes que legitime pô-los na rua pela ilegalidade que diariamente cometem a não investigar e a não publicar? Para quando, termino, embora pudesse colocar bastantes mais interrogações, a não permissão de que a universidade seja meramente um projector de carreiras (a maior parte das vezes de gente bastante estúpida)?

Não sei que lobby há. Certamente, disso penso não ter dúvidas, os professores universitários são bastante mais poderosos que os professores dos outros níveis de ensino. O problema é que andam a liquidar, de maneira igual se não pior que aqueles (pelo significado e sentido da Universidade), o direito de todos ao desenvolvimento intelectual, o direito ao Saber. Muitos professores universitários, especialmente mais jovens, são hoje apenas o espelho daquilo que é a "formação" em Portugal: um sentido de responsabilidade deplorável e criminoso, um inexistente respeito e valorização Saber, uma cultura proactiva do nivelamento geral pelo Mínimo (porque também eles são, em si mesmos, mínimo). Diga-se de passagem que com a universidade de hoje estão mal os alunos que ultrapassam esse mínimo (porque, comparativamente, são sempre inferiores aos colegas do lado mais ignorantes mas com notas aproximadas).
Demasiado triste.

Felicito-o de qualquer das maneiras pelo post. É preciso começar a trazer à luz do dia o obscurantismo que se pratica nas Universidades, para ver, claro está, se lhes acontece como aos vampiros e desaparecem de vez.

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