A desmobilização é sempre um grande problema. Quando uma guerra acaba, ou quando uma guerra anunciada não se concretiza, os combatentes que se tinham mobilizado têm frequentemente a maior dificuldade de adaptação aos tempos de paz.
Muitos embrenham-se numa «mentalidade de cerco», continuam a ver inimigos por todo o lado e consideram «traidores» aqueles que se empenham em tarefas de paz.
Muitos soçobram no maniqueísmo e passam a ter-se por detentores únicos, e praticantes exclusivos, daquilo que designam por «patriotismo», um conceito que para eles tem uma conotação bélica – deixando qualificadas de «anti-patrióticas» todas as concessões que a partilha social impõe a toda a gente num ambiente apaziguado.
Outros dedicam-se a uma solitária contemplação da gesta castrense e dos bardos marciais – receosos das «contaminações» que decorrem da «colaboração» com o presente, numa espécie de viuvez dorida de cadáveres adiados.
E por fim há os que se iludem, os que julgam que a guerra não acabou, e que tomam por «desertores» aqueles que agem em conformidade com o anúncio do fim da guerra.
Estes últimos ainda me merecem algum respeito, embora objectivamente tenha que considerar que a atitude deles não é «patriótica», seja em que acepção for que tomemos a palavra. Uma pátria cresce, tem que crescer, em tempo de paz, e não é viável se não souber fazê-lo. Recusar-lhe o apoio em nome da nostalgia da guerra, ou em nome dos deuses da guerra, ou em nome da ilusão de que a guerra subsiste, é furtar-se ao apoio que à pátria é devido – que é devido no presente, com as pessoas do presente, com os projectos e rumos do presente, em nome da concórdia social.
Penso nisso e lembro-me daquele caso extremo dos soldados japoneses que, embrenhados na selva, decénios depois de a Segunda Guerra Mundial ter terminado ainda não se tinham rendido. Esses ainda tiveram a desculpa (pouco verosímil, convenhamos) de que sinceramente desconheciam que a guerra tivesse terminado (LER, LER, LER e LER) – embora tenha que se reconhecer que em nada contribuíram para fazer renascer das cinzas o duplamente poderoso (porque agora irénico) Japão moderno. É uma desculpa que nem serve àqueles que, prisioneiros de uma concepção distorcida do que seja o patriotismo, se obstinam na ilusão de que a guerra não acabou, ou de que ela ainda vai começar.
Muitos embrenham-se numa «mentalidade de cerco», continuam a ver inimigos por todo o lado e consideram «traidores» aqueles que se empenham em tarefas de paz.
Muitos soçobram no maniqueísmo e passam a ter-se por detentores únicos, e praticantes exclusivos, daquilo que designam por «patriotismo», um conceito que para eles tem uma conotação bélica – deixando qualificadas de «anti-patrióticas» todas as concessões que a partilha social impõe a toda a gente num ambiente apaziguado.
Outros dedicam-se a uma solitária contemplação da gesta castrense e dos bardos marciais – receosos das «contaminações» que decorrem da «colaboração» com o presente, numa espécie de viuvez dorida de cadáveres adiados.
E por fim há os que se iludem, os que julgam que a guerra não acabou, e que tomam por «desertores» aqueles que agem em conformidade com o anúncio do fim da guerra.
Estes últimos ainda me merecem algum respeito, embora objectivamente tenha que considerar que a atitude deles não é «patriótica», seja em que acepção for que tomemos a palavra. Uma pátria cresce, tem que crescer, em tempo de paz, e não é viável se não souber fazê-lo. Recusar-lhe o apoio em nome da nostalgia da guerra, ou em nome dos deuses da guerra, ou em nome da ilusão de que a guerra subsiste, é furtar-se ao apoio que à pátria é devido – que é devido no presente, com as pessoas do presente, com os projectos e rumos do presente, em nome da concórdia social.
Penso nisso e lembro-me daquele caso extremo dos soldados japoneses que, embrenhados na selva, decénios depois de a Segunda Guerra Mundial ter terminado ainda não se tinham rendido. Esses ainda tiveram a desculpa (pouco verosímil, convenhamos) de que sinceramente desconheciam que a guerra tivesse terminado (LER, LER, LER e LER) – embora tenha que se reconhecer que em nada contribuíram para fazer renascer das cinzas o duplamente poderoso (porque agora irénico) Japão moderno. É uma desculpa que nem serve àqueles que, prisioneiros de uma concepção distorcida do que seja o patriotismo, se obstinam na ilusão de que a guerra não acabou, ou de que ela ainda vai começar.
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