O novo Ashram minimalista

segunda-feira, 21 de julho de 2008

É benigno (já passaram quantos anos?)

"É benigno", lembro de quando me telefonou e eu suspirei de alívio por ela, eu que não estava pronto – então, agora ou nunca – para ouvir o troar no meu cérebro da hipótese alternativa.
Lembro-me de em pequeno ter ido visitar os carrilhões de Mafra, e do medo que senti quando me contaram que o Bizarro, o sino maior, podia ouvir-se, com vento favorável, a muitos quilómetros de distância. A somar-se às vertigens, que eram muitas, juntou-se o pânico de que o sino tocasse naquele momento em que eu estava a poucos metros, e – sei lá o quê –, me ensurdecesse, me projectasse para o vazio, qualquer coisa de terrível. Só sosseguei quando voltámos cá a baixo.
Houve dois ou três momentos na vida em que a espera de um telefonema foi como estar a uns metros do Bizarro. Nunca perdi esse medo.

1 comentário:

Unknown disse...

Parece uma passagem de Proust :)
A sua evocação é deliciosa.

A experiência que tive nos terraços de Mafra aconteceu já em adulta.
E foi num pôr de sol quente de Maio, entre as poucas dezenas de aventureiros que ousaram aceitar uma qualquer ‘bebida-de-honra’ junto aos carrilhões, desta vez entregues a um concerto sob partitura portuguesa (é tão típico não me lembrar do autor…).
A sensação foi parecida e inquietante, ao ver de perto a imponência atemorizadora do ‘complexo sineiro’ (- aguentarei a agressão dos decibéis?!)
Entre o vento forte e a vaga ameaça do perigo, só me lembro de que me vinguei nas tâmaras recheadas, que trinquei - discreta mas - furiosamente.
Dá para ficar na memória, que maçada.

Certo é que o "evento" fez jus ao sino maior (cujo nome aprendi hoje):
- porque foi o mais bizarro concerto e o mais bizarro ‘cocktail party’ ( bell party?!…) a que assisti!

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