O novo Ashram minimalista

sábado, 31 de maio de 2008

Uma nota pessoal: os burgueses de Calais

Aproxima-se um momento crucial na minha vida. Um grupo muito restrito de miúdos vai, descalço e de corda ao pescoço, tentar resgatar o tempo perdido, prestando a homenagem há muito devida ao velho mestre. Onde é que andámos este tempo todo, eis a pergunta que nos interpela. Alguns hesitam, com medo de reverem um ícone da infância no seu declínio final, preferindo conservar a imagem da força da idade; outros replicam com a necessidade de contrição, de justiça, nesta última e dolorosa oportunidade.
Aproxima-se o momento. Já o fazíamos há muito desaparecido, foi isso que nos dispersou, foi isso que nos fez consumar a aparência de insensibilidade.
Descalço e de corda ao pescoço: para lá dos meus pais, nunca a aprovação de alguém foi tão importante para a consolidação daquilo em que me tornei.

2 comentários:

margarida disse...

É profundamente comovente este estado de ansiedade.
Este acto de contrição quase enredado, e, sobretudo, este propósito de fé e coragem.
Um mistério, no entanto.
É como se houvesse, também aqui, uma gradação deífica.
Ou, à escala mais chã, um imperador que concede audiência aos príncipes de outros reinos, que ajudou a conquistar.
É belo, o genuflexório reconhecido.
A perceptível e genuína humildade.
A justeza na revelação.
E nessa romagem receosa e derradeira, lateja o cerne da humanidade que já narrei, entre sorriso e surpresa.
E, sobretudo, júbilo.
É que a luz encandeia, mas não fere.
Assim, em paz, e de coração serenado, encontrará o mestre sem corda ou desamparo.
A luz também aguarda outras luzes, porque tudo volta ao princípio.
O bem é circular.
E vive.

Jansenista disse...

Obrigado pelo apoio. Se eu ao menos tivesse essas certezas... Acho que vou tomar uns valentes whiskys na hora...

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