O novo Ashram minimalista

terça-feira, 29 de abril de 2008

Combustões e o Modo de Produção Asiático: Um Enigma

O Confrade Combustões, agrilhoado aos ditames da sua consciência, da «estátua interior» a que os iluministas atribuíam funções de «árbitro imparcial», resolve passar culpas para cima do «modo de produção asiático» (AQUI), aquela invenção do sincretismo marxista que partiu de uma compaginação daquilo que já os áticos diziam dos asiáticos, e que corresponde afinal a uma tradição de representação caricatural do «despotismo asiático», tão caricatural que Marx lhe atribuiu uma feição pré-primitiva (passe a expressão).
A propriedade estadual e a substituição do direito pela religião são traços vincados já na imagem que do Oriente nos fornece Montesquieu (e subsidiariamente, nas referências ocultas de Marx, fornecem também Jean Bodin e François Bernier); a falta de uma aristocracia capaz de «frondes» anti-despóticas é algo já sugerido em Maquiavel, curiosamente; a prisão numa tecnologia exclusivamente agrária aparece na visão estilizada de John Stuart Mill e de Bernier; o igualitarismo servil, o isolamento das comunidades rurais, a estagnação histórica correspondem ao contributo da visão «asiática» de Hegel.
Em suma, uma caricatura compósita imortalizada pelas geniais capacidades de síntese e de rotulagem de Karl Marx – rapidamente convertida em tropo, se não em artigo de fé, por todos os que quiseram ver na distância (para não olharem para demasiado perto) as raízes do Estado Absolutista e os traços sinistros de um «biologismo organicista» que alegadamente alicerçaria o «perigo amarelo».
Lendo o Confrade Combustões suscita-se-me uma dúvida, contudo: dada a sua experiência no terreno, quererá ele sugerir que a realidade acabou numa imitação da caricatura?

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