Morreu Luiz Pacheco, o último representante genuíno de uma certa boémia literária nacional (no que ela tinha de romântico mas igualmente no que ela tinha de sórdido, de perverso e censurável). Li-o muito pouco, e talvez retenha sobretudo o sarcasmo iconoclasta que transmitia também nas entrevistas.
Quando o nome dele é mencionado, lembro-me sempre da referência displicente que fez, numa dessas entrevistas, à «Literatura de Casino», que na definição dele é a literatura «que se faz aos prémios».
Que bem apanhado.
Entre muitas outras categorias que poderiam sugerir-se (desafio os Confrades para avançarem mais algumas) eu por mim adiantaria já uma, correspondente de hoje em dia aos tops de vendas: a «Literatura Caixa de Bombons», aquela «que se oferece sem se abrir», ou seja que muito se compra (felizmente para a bolsa dos autores) mas pouco se lê (felizmente para a reputação dos autores).
Quando o nome dele é mencionado, lembro-me sempre da referência displicente que fez, numa dessas entrevistas, à «Literatura de Casino», que na definição dele é a literatura «que se faz aos prémios».
Que bem apanhado.
Entre muitas outras categorias que poderiam sugerir-se (desafio os Confrades para avançarem mais algumas) eu por mim adiantaria já uma, correspondente de hoje em dia aos tops de vendas: a «Literatura Caixa de Bombons», aquela «que se oferece sem se abrir», ou seja que muito se compra (felizmente para a bolsa dos autores) mas pouco se lê (felizmente para a reputação dos autores).
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De AV:
A minha contribuição: a "Literatura Cyrano" - ou seja, aqueles livros que as pessoas escolhem só pelo título, para falar por elas. Usar títulos de livros como "recado" ou mensagem encapotada pode até ser criativo, mas é potencialmente perigoso (quando não se sabe do que se trata, lá dentro). Já assisti a um caso desses, em que o feitiço se virou contra o feiticeiro. E acho que foi merecido.
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De T:
A categoria "Literatura que envergonha quem a compra". Um amigo, neste Natal, pediu-me o último do Sousa Tavares, enunciando claramente que só o leria se o oferecessem. Até tinha curiosidade e queria ler, mas não queria ser visto a comprar. Fiz eu esse papel, claro está.
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De O Réprobo:
Pois a minha é próxima da de AV, mas apela a outros sentidos e é resultado de observação no comboio Cascais-Lisboa: a "Literatura-Cosmético", um verdadeiro acessório de toilette. Vi várias pessoas com o tijolo equatorial do Miguel Sousa Tavares na mão (mas antes tinha sido «O código...»), hermeticamente fechado, durante a viagem inteira, embora com a capa cuidadosamente virada para os outros. Iam de pé? Não. Estavam com sono? Nem pensar, olhavam bem para os passantes para se certificarem de que todo o quadro fora apanhado. Resumindo, só podia estar lá o calhamaço a compor a imagem.
8 comentários:
A minha contribuição: a "Literatura Cyrano" - ou seja, aqueles livros que as pessoas escolhem só pelo título, para falar por elas. Usar títulos de livros como "recado" ou mensagem encapotada pode até ser criativo, mas é potencialmente perigoso (quando não se sabe do que se trata, lá dentro). Já assisti a um caso desses, em que o feitiço se virou contra o feiticeiro. E acho que foi merecido.
Ana
A categoria "Literatura que envergonha quem a compra".
Um amigo,neste Natal, pediu-me o último do Sousa Tavares, enunciando claramente que só o leria se o oferecessem. Até tinha curiosidade e queria ler, mas não queria ser visto a comprar.
Fiz eu esse papel, claro está.
Achei muita graça à categoria da Ana e lembrou-me o jogo do Assouline com a capa de "L’Origine du monde".
http://passouline.blog.lemonde.fr/2006/04/19/2006_04_les_aventures_d/#comments
A minha sugestão ia no sentido da consoror "T", que a definiu melhor do que na fórmula para qual abicava a pena...
Pois a minha é próxima da de AV, mas apela a outros sentidos e é resultado de observação no comboio Cascais-Lisboa: a "Literatura-Cosmético", um verdadeiro acessório de toilette. Vi várias pessoas com o tijolo equatorial do Miguel Sousa Tavares na mão (mas antes tinha sido «O código...»), hermeticamente fechado, durante a viagem inteira, embora com a capa cuidadosamente virada para os outros. Iam de pé? Não. Estavam com sono? Nem pensar, olhavam bem para os passantes para se certificarem de que todo o quadro fora apanhado. Resumindo, só podia estar lá o calhamaço a compor a imagem.
Beijinhos e abraços
Todas estas achegas estão tão lindamente apanhadas quanto a proposta por Luiz Pacheco, e de todas elas sinto a presença na mais rotineira conversa entre amigos.
Será o 'feitiço da Linha'? Pelas bandas nortenhas, as gentes ainda protegem, com desvelo e pudor, as capas dos calhamaços que lêem nos transportes. Adivinhamos o conteúdo nas páginas abertas e pouco mais. Falta apurar se é tradição ou embaraço...
"Literatura Acessório", como nos apelos do Bolhão: 'é da moda!' - 'é da moda!'...
Herdei da família materna nortenha uma série de capas de livros de pano e de couro. Vou começar a dar-lhes serventia no autocarro, obrigada Margarida:)
Vi o Código da Vinci muito em aeroportos, em modo de ostentação.
Confrade Jm, por favor satisfaça a minha curiosidade e mostre a sua definição:)
Lá vai mais uma sugestão:
"Literatura Azeitona" - Consumi-la implica deitar fora o caroço.
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