Magnífica evocação de El Greco, em Je_Maintiendrai.
A pintura que ele destaca não a tinha presente, devia estar inscrita entre aquela multidão de traços que compõe o «estilo», aqui vagamente evocativo do movimento de amparo corporal que se amplia no Enterro do Conde de Orgaz.
Quando vejo quadros de El Greco tenho uma de duas reacções:
- Os que representam Toledo convocam a minha primeira subida do Zocodover para o Alcazar, uma experiência esmagadora para um jovem que, como eu, em leituras vinha já embebido na «mística» heróica do local.
- Os que representam a devoção cristã lembram-me a observação de Malraux (em Les Voix du Silence) sobre El Greco, que é a de que nele culmina a representação de um «Deus Absconditus», um Deus não-ostensivo – o Deus da devoção pública e da espectacularidade, da iconografia de Chartres, por exemplo (ou mais ainda o Pantocrator bizantino), substituído pela sugestão de um Deus visitante mas secreto, um Deus de iniciados, um Deus imanente nos gestos de fervor, de êxtase e de solicitude, um Deus prenunciado, «atmosférico», um ponto focal para o qual os corpos das figuras centrais subtilmente se elevam.
Um pouco como se, no entendimento de Malraux, El Greco quisesse conquistar, com essas representações de fervor puramente espiritualizado (mas movimentado nos gestos de súplica), as próprias objecções iconoclastas dos heresiarcas.
Vejo tudo isso no quadro de "El de las Hazañas". Agradeço ao Confrade a visita guiada, com o colorido das suas evocações – deu, como vê, para eu ficar para trás na galeria, a matutar.
A pintura que ele destaca não a tinha presente, devia estar inscrita entre aquela multidão de traços que compõe o «estilo», aqui vagamente evocativo do movimento de amparo corporal que se amplia no Enterro do Conde de Orgaz.
Quando vejo quadros de El Greco tenho uma de duas reacções:
- Os que representam Toledo convocam a minha primeira subida do Zocodover para o Alcazar, uma experiência esmagadora para um jovem que, como eu, em leituras vinha já embebido na «mística» heróica do local.
- Os que representam a devoção cristã lembram-me a observação de Malraux (em Les Voix du Silence) sobre El Greco, que é a de que nele culmina a representação de um «Deus Absconditus», um Deus não-ostensivo – o Deus da devoção pública e da espectacularidade, da iconografia de Chartres, por exemplo (ou mais ainda o Pantocrator bizantino), substituído pela sugestão de um Deus visitante mas secreto, um Deus de iniciados, um Deus imanente nos gestos de fervor, de êxtase e de solicitude, um Deus prenunciado, «atmosférico», um ponto focal para o qual os corpos das figuras centrais subtilmente se elevam.
Um pouco como se, no entendimento de Malraux, El Greco quisesse conquistar, com essas representações de fervor puramente espiritualizado (mas movimentado nos gestos de súplica), as próprias objecções iconoclastas dos heresiarcas.
Vejo tudo isso no quadro de "El de las Hazañas". Agradeço ao Confrade a visita guiada, com o colorido das suas evocações – deu, como vê, para eu ficar para trás na galeria, a matutar.
2 comentários:
Obrigado pelas linhas. Não conhecia os comentários de Malraux, que tão bem transmitem o que se sente no "lienzo" de D. Julián. Curioso que seja tão pouco conhecido, não é? Hesitei em trazer outro do Escorial,soberbo, "El sueño de Filipe II", que Sir Anthony Blunt (sim, o de Philby) propôs redenominar “Alegoria de la Liga Santa”; mas este vai melhor ao ponto.
E ainda de quadros, Toledo e juventude com "mística" - que também por isso passei, e deverei ter poucos mais anos que V.S. - recordar-se-á de como era a visão do "Entierro del Conde de Orgaz" na Igreja de S. Tomé? O assento nuns bancos duros de pau, e um sacristão ou coisa que o valha que dava a uma manivela, fazendo subir guinchando um telão esbranquiçado que ia revelando progressivamente a maravilha.
Maravilha era também uma perdiz escabechada com que meu Pai sabiamente fazia rematar a manhã, algures na tal subida do Zocodover...
Referencia cinematográfica: film "El Greco", de Luciano Salce, 1966, con el gran Fernando Rey interpretando el papel de Felipe II
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