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O nariz esborrachado e o esgar permanente sob um lábio superior paralisado pela botulina, prova de intervenções plásticas mal sucedidas, o olhar lúbrico, a pose dengosa, a melena pintada a cores impossíveis caindo sobre prêt-à-porter de luxo: eis o último avatar dinástico do peronismo, depois das mais tropeiras, e cabareteiras, Evita e Isabelita. Como nada tenho contra
manicures-pedicures, meditarei apenas que a Argentina merece melhor do que estas comédias conjugais, sinais de repúblicas imaturas que confundem carisma com privilégio, quase a resvalarem na pequena domesticidade dramatizada e frívola em que se converteram, a partir do século XVII, as dinastias monárquicas – também elas afadigadas na cobertura de charmes fanados com pomadas e arremedos postiços, ardentemente desejosas de que o público não note, ou não ligue.
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