O novo Ashram minimalista

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Iberismos e inexactidoes: uma replica

Numa muito descontraída (e, ao menos da minha parte, propositadamente irónica) troca de ideias sobre o Iberismo, o Confrade Combustões promete apontar-me algumas «inexactidões», e mais, inexactidões «consideráveis». Seguem-se várias considerações judiciosas e pertinentes, e concordo com todas. Sucede, todavia, que julgo que a promessa ficou por cumprir. É que aquilo que o Confrade enfatiza é, na essência, que os espanhóis são incorrigíveis, que sempre conservarão no espírito a sua visão hegemónica e sempre desprezarão esta aberração geográfica que, aos olhos deles, Portugal constituiria. Tendem a ignorar-nos ou a desprezar-nos, em suma (com algumas raríssimas excepções).
Mas isso parece-me bem evidente, não sofre contestação, e é o produto natural dos tempos em que se ensinava a história pátria nos bancos dos liceus: enaltece-se as glórias mais ínfimas e ignora-se os embaraços, aproveita-se o que soe mais inequívoco e descarta-se o que o não seja. Nos bancos dos liceus ouvi muitas vezes afirmado e insinuado que os espanhóis são uns fracos, e dava-se o exemplo de Aljubarrota; só muito mais tarde ouvi, sussurradas, algumas alusões às venturas e desventuras da invasão de Madrid pelo Marquês das Minas, em 1706. Cada país aproveita o que pode, e chama-lhe (ou chamava-lhe, já não sei) «História Nacional». Portugal nunca ficou atrás de Espanha na exploração aguerrida dessa «releitura do passado», e por isso em matéria de «inexactidões»...
Não vejo, pois, qualquer incompatibilidade entre o que o Confrade afirma e aquilo que eu, algo jocosamente, sugeri acerca da burguesia madrilena que desdenha já de andar de SEAT e tem de «conquista» uma noção estritamente concupiscente.
Gostava de sublinhar, porque absolutamente justas, três conclusões que tira: a Espanha não tem irmãos (em política, e em política internacional, a noção de fraternidade sempre foi sui generis); o Integralismo foi, com raríssimas excepções, uma colecção de diletâncias líricas que tinham o azar de não rimar, e uma dolorosa demonstração de insuficiência historiográfica de uma geração inteira (mais uma típica vítima das ideologias); o Iberismo é uma fraqueza interna – e já agora, permita-me também, é também fraqueza o anti-iberismo, nas actuais condições de irenismo sibarítico em que soçobrou «la movida» na Meseta...


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