O novo Ashram minimalista

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Maimon & Maimonides


1. Parabéns à Consoror Charlotte pela tradução de Nancy Mitford. Um dos primeiros posts do Ashram, se a memória não me trai, era dedicado às irmãs Mitford. Tenho para ler, há muito, a correspondência de Nancy Mitford com Evelyn Waugh – deve ser uma delícia.
2. E bela evocação de Maimónides. Há uns anos causei a barafunda no catálogo de uma prestigiadíssima biblioteca portuguesa denunciando a confusão que faziam entre Moisés Maimónides e o iluminista Solomon Maimon – tudo catalogado como se se tratasse da mesma pessoa!


2 comentários:

Charlotte disse...

Obrigada, estimado Jansenista! O livro a que se refere, com a correspondência entre NM e EW, só pode ser uma maravilha. Passei por ele há tempos no Amazon.

Noto que não precisaria tanto da memória se não tivesse apagado os arquivos! (Ah, não me posso enervar logo de manhã...)

E sabe que entre Maimónides e Maimon... Ai, ai...

Pedro Botelho disse...

Faz o estimado Jansenista muito bem em invocar Moisés Maimónides no intervalo da interessante discussão que trava com o seu confrade do Oriental. Não há dúvida que o grande filósofo judeu se revelou um partidário da quasi-igualdade entre todos os não-judeus e restantes animais. Faz até uma referência aos «turcos» (na sua acepção, os mongóis originários da Ásia central):

«Alguns dos turcos e os nómadas do norte, e os negros [kushim] e nómadas do sul, e aqueles que se lhes assemelham nos nossos climas, têm uma natureza como a dos animais mudos, e em minha opinião não se situam ao nível dos seres humanos, e o seu nível entre as coisas existentes é abaixo de um homem e acima de um macaco, porque são à imagem e semelhança de um homem mais que de um macaco». Maimónides, Guia dos Perplexos, livro III, cap. 51.

Mas os restantes gentios vagamente parecidos com criaturas de Jeová também não lhe inspiram muitos cuidados. Por exemplo:

"Accordingly, if we see an idolater being swept away or drowning in the river, we should not help him. If we see that his life is in danger, we should not save him. It is, however, forbidden to cause one of them to sink or push him into a pit or the like, since he is not waging war against us. To whom does the above apply? To gentiles [goyim]." Maimonides, Mishnah Torah, Moznaim Publishing Corporation, Brooklyn, New York, 1990, Chapter 10.

"As for Gentiles with whom we are not at war (...) their death must not be caused, but it is forbidden to save them if they are at the point of death; if, for example, one of them is seen falling into the sea, he should not be rescued, for it is written: 'neither shalt thou stand against the blood of thy fellow [Leviticus 19:16]' -- but [a Gentile] is not thy fellow." Maimonides, Mishnah Torah 4:11, in Israel Shahak, Jewish History, Jewish Religion.

"Man alone, and not vessels, can contract uncleanness by carriage. (...) The corpse of a Gentile, however, does not convey uncleanness by overshadowing. (...) a Gentile does not contract corpse uncleanness; and if a Gentile touches, carries, or overshadows a corpse he is as one who did not touch it. To what is this like? It is like a beast which touches a corpse or overshadows it. And this applies not to corpse uncleanness only but to any other kind of uncleanness: neither Gentiles nor cattle are susceptible to any uncleanness." The Code of Maimonides, Book Ten, Yale Univ. Press, New Haven, 1954, pgs. 8-9.

De onde se segue que os turcos devem ser, também eles, admitidos em qualquer zoológico pronto a acatar as directivas do Povo Escolhido.

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