Quando Elvis morreu alguém comentou: "good career move".
No caso de Amy Winehouse digo o contrário, perde-se um arco de criatividade que prometia muito, havíamos de a ver maturar aquele impulso raspy e aquela sensualidade que parecia macerada no bas-fond de Bourbon Street.
Venceu o lado histriónico e transgressor, o show-off romântico do "viver perigosamente", o lado "Priscilla Drag Queen do Deserto" rebobinado por Tim Burton e paramentado por Jean-Paul Gaultier, o côté louche das bebedeiras e das sovas e das misturas proibidas, da tatuagem e do desperdício, dos "f___ me pumps".
Por mim, teria vencido aquela voz quente a deslizar, num glissando fortíssimo ao jeito de um saxofone tenor, por entre os meandros de uma soul ritmada e rejuvenescida, uma força da natureza, um guaxinim com cio entre os canaviais do delta, um campari amérrimo a despertar forças insuspeitadas no palato. Lembro-me sempre da primeira vez que ouvi Aretha Franklin a cantar "Crazy He Calls Me", um arrepio em forma musical; lembrarei sempre, em paralelo – e, sem preconceito, no mesmo pedestal – o rumor felino a arranhar o sublime em "Rehab".
Que desperdício, que ressaca! As coisas únicas são as únicas que se perdem mesmo, sem remédio.
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