Não bastava toda a porcaria antecedente: era possível ir mais baixo ainda, e o Sr. Strauss-Khan não hesitou. Aí andam fotografias dele a sair do tribunal e arrastando pelo braço a esposa. Não se contentou com as humilhações consumadas na penumbra dos quartos e alcovas: quis exibir a Senhora em parada, como um troféu cavernícola, talvez para ostentar, com a presença da desgraçada, fosse o perdão dela, fosse a contrição dele.
A pobre mulher até é possível que tenha perdoado, e até que o tenha feito com um nível convincente de voluntariedade.
Agora qualquer homem com um mínimo de educação, de respeito, de dignidade, teria proibido – insisto, teria proibido – que a mulher aparecesse em pública ostentação de uma desmiolada solidariedade para com alguém que acabara de admitir ter-lhe faltado ao respeito de modo objectivamente imperdoável. Em circunstância alguma poderia ela ter sido exibida desta forma – por mais que ela consentisse, ou quisesse.
Eu sei que essas ostentações chifrudas vão muito ao gosto do público americano, e parece que todo o pulha e violentador acaba por arrastar para a ribalta essas pseudo-esponjas morais duplamente vitimizadas, a tentar uma derradeira prestidigitação de valores a partir da afronta: talvez exibi-las seja o "ultimate power trip", a inebriante sensação de um género de impunidade ilusória que assenta na não menos ilusória convicção misógina de que a estupidez feminina, sendo ilimitada, tudo perdoa e apaga.
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