O novo Ashram minimalista

sábado, 18 de junho de 2011

Eu e Yeats


Com um grupo de sofisticados e divertidos paulistanos, falámos de Yeats, e a conversa interpelou-me, genuinamente.
Transportei-me mentalmente para o paralelo de

The children learn to cipher and to sing,
To study reading-books and histories,
To cut and sew, be neat in everything
In the best modern way - the children's eyes
In momentary wonder stare upon
A sixty-year-old smiling public man.

Uma passagem que vivo subliminarmente, mutatis mutandis, quase no dia a dia, na sua literalidade e no simbolismo de me sentir envelhecer – contra os meus desejos, como Yeats.

O who could have foretold
That the heart grows old?

Lembrei-me das verdades telúricas de Crazy Jane, e do florescimento dialéctico da liberdade através da rebelião das nossas servidões:

'Fair and foul are near of kin,
And fair needs foul,' I cried.
'My friends are gone, but that's a truth
Nor grave nor bed denied,
Learned in bodily lowliness
And in the heart's pride.

Lembrei-me da resistência do amor e da saudade por entre as fibras da nossa decadência e do que significa a conspiração de saudade e fidelidade e tristeza.

But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face

Yeats? Tomo-o por arauto da alienação indesejada que nos vai fazendo sair de cena, um a um, num processo que não dispensa a submissão individual, a subida ao patíbulo; que não nos permite, passada a fronteira em que enfunámos as velas, regressar da Bizâncio em que os pássaros dourados chilreiam sem se cansarem porque na verdade estão mortos, exalam já (sempre) a dimensão eterna da fatalidade:

Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.

Um bardo para almas empedernidas pela resignação, mas reconditamente inconformadas. Lê-lo perturba cada vez mais, quanto mais envelheço (envelhecemos). Lembro-me de tê-lo dito ontem. O resto consigno-o aqui, numa pausa do meu regresso.

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