O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 23 de março de 2011

O peculiar entendimento do Sr. Mia Couto quanto a «solidariedade geracional»


Enviaram-me por email um texto, atribuído a Mia Couto, no qual ele escarnecia da «geração à rasca», acusando-a de ela ser privilegiada e nada mais andar a fazer do que a reclamar a perpetuação desses privilégios.
Era suposto o país ter evoluído, mas pelos vistos a cabeça pensante acha que a evolução é um «privilégio» cuja protecção não se justifica. O Sr. Mia Couto entende, portanto, que deveríamos permanecer destituídos e boçais para sempre, porque isso é que, presume-se, é para ele a nossa natureza de base, a autêntica, «sem privilégios». Pior, entrevê-se na argumentação algum laivo do pior platonismo político – o repúdio da ideia de que os filhos possam ser diferentes ou melhores do que os pais, a mesma ideia que amarrou por milénios algumas sociedades retrógradas à lógica hereditária das «castas» (és filho de sapateiro? sapateiro serás! Pergunta-se: o Sr. Mia Couto não viverá melhor do que os seus progenitores? Isso ele não revela...)
Percebe-se ao que vem o «intelectual», e o que o angustia. Uma sociedade que progride, que se educa, que reclama o «privilégio» de mais prosperidade e educação, uma sociedade que retira os espinhos e sacode as brenhas do embrutecimento, é uma sociedade menos susceptível de se embasbacar com as «geniais criações» do Sr. Mia Couto, é menos clientela a despachar-lhe os livrinhos, é menos dinheiro em caixa...
Nosferatu também não suportava iluminações e tinha que recolher antes da alvorada. Estranho que não lhe tenha ocorrido definir a luz diurna como um «privilégio» que as suas potenciais vítimas não teriam legitimidade para reclamar. O vampiro tinha, em matéria de parasitismo e descaramento, algo a aprender com o nosso opinativo «escritor».

EM TEMPO: Parece que não é de Mia Couto. Pouco importa, põe-se aspas e aplica-se àquele que usou o nome (tanto me faz que seja o genuíno ou que seja a imitação): LER

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