No outro dia, confrontado com a perspectiva de ter que herdar alguns livros entre os quais naveguei na meninice e na adolescência, fui visitar o lote e abracei-me a velhos amigos de que não me lembrava mais. Alguns estão amarelecidos dentro das suas capas magníficas, e voa entre eles a memória de um tempo em que me concentrava sem mais solicitações numa leitura pausada e silenciosa. Senti a «vertigem proustiana» dos meus anos acumulados e a profundidade de um longo trilho cujos primeiros passos já esqueci; a vida é um meandro de meandros, mas lembrá-la assim, na companhia desses amigos silenciosamente eloquentes, confere-lhe alguma linearidade. Talvez os releia, relendo-me à luz oblíqua da altura que a acumulação de anos me atribui – recolocando-me, por entre a aspereza das folhas e a asma das saudades, num tempo que a distância ajuda, paradoxalmente, a estender e a condensar.
O novo Ashram minimalista
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
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