A propósito de um assassinato brutal e obsceno algumas vozes indignadas chegaram ao ponto de censurarem uma manifestação de apoio ao assassino, usando nas suas alegações o argumento de que o apoio ao assassino de um homossexual é manifestação de homofobia.
Isso é sinistro, evoca a fria lógica das represálias, já que pretende estender a culpa para aqueles que se atrevem a demonstrar simpatia pelo culpado.
Pode haver, não nego, homofóbicos que queiram aproveitar a ocasião para manifestarem o seu apoio ao assassino, afinal o executante de tanta violência frustrada.
Mas, por mim, basta-me que haja amigos ou familiares do assassino nessa manifestação para eu declarar aqui mesmo toda a minha simpatia pelo evento.
Aqueles que amam o assassino (no sentido de amizade, ternura, compaixão, misericórdia até) não fazem mais do que o seu dever moral demonstrando a sua solidariedade humana. Não se lhes pode pedir que o julguem – isso haverá quem o faça, e quem o fará, espero, com a maior severidade e rapidez.
Eu diria até que esses que amam o assassino nem sequer têm o direito de o demonstrarem, porque o amor é superior e anterior ao direito, e o direito não tem que se imiscuir nesses sentimentos básicos de coesão da espécie. Manifestam-se, e é tudo.
Devemos respeito; deveríamos respeito sempre pelos resquícios de civilidade cristã que restassem no âmago das nossas consciências – mas pelos vistos isso é esperar demasiado; devamos respeito ao menos por obediência à «regra de ouro», sabendo colocar-nos na pele daqueles que inocentemente continuam a amar um assassino, imaginando da nossa parte o que seria se o crime tivesse sido cometido por alguém que amamos.
No nosso universo crasso e legalista ninguém pára um instante para reconhecer esta primazia afectiva que nenhum direito pode indeferir. Chegámos ao grau zero da ética no meio deste holocausto de brutalidade e alarido, de maniqueísmo e caça às bruxas.
Hoje sou de Cantanhede.
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