O novo Ashram minimalista

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sá Carneiro em saldo?!

Leio por aí uns panegíricos a Sá Carneiro que me enchem de espanto. É verdade que, na consabida expressão de Alexandre Herculano, as alvas cãs da respeitabilidade tudo recobrem e tudo redimem… mas no espaço de uma geração?!
Não vamos mais longe: a AD foi a mãe de todas as coligações amplamente parasitárias do aparelho de Estado, tirando proveito do fôlego recobrado no rescaldo de uma quase-guerra-civil. Um tapete de chupistas abateu-se sobre o erário público como talvez não tivesse sucedido desde meados do século XIX, e a pretexto de uma justa recuperação do enxovalho sabotador das nacionalizações e dos saneamentos, deu ao "dinheiro novo" a aparente legitimidade de tomar as dores do "dinheiro antigo" e de engordar à tripa forra à vista dos papalvos.
Conheci alguns dos ornamentos dessa vaga sá-carneirista uns anos volvidos, a festa de "feeding frenzy" terminada mas ainda as atitudes bem marcadas, em histerese de peculato. Tudo o que veio a seguir foi aprendizagem tosca desses hábitos de maioria balofa e impune, desses hábitos de se roubar com uma mão enquanto se acenava com a outra a bandeirinha da CEE – e com outra mão, se houvesse, se acarinharia os gloriosos mandantes da descolonização e do abrilismo, "domesticados" à partidocracia.
O tempo pode dourar um nadinha essas memórias, porque afinal esses que sofreram o espectáculo da iniquidade e da prepotência devorista eram mais jovens, e éramos nós. Podem mandar fazer t-shirts ou bóinas, podem querem carpir, ou mandar carpir, os "James Deans" da política portuguesa, caídos em helicóperos ou avionetes - já que, como todos sabem, é o sentido do negócio, e não o sonho, que comanda a vida.
Mas para ilustração dos mais jovens e desmemoriados, aqui fica em duas ou três frases o testemunho de quem era adulto já nesse momento, de quem viu e percebeu quase tudo e quase nada esqueceu:

Aqueles tempos da AD e do sá-carneirismo foram uma boa porcaria (sem ofensa aos porcos); não estamos melhor, mas de certeza que não estamos pior. As moscas, e os filhos das moscas, são precisamente os mesmos. Se têm saudades dos pais, fiquem com os filhos.

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