Sabe-nos bem que os mercados tenham assegurado, e continuem a assegurar, um nível e um padrão de consumo e de endividamento não-reprodutivo que está vincadamente acima das nossas possibilidades.
Mas como nunca nos ocorreu que teríamos que pagar tudo (e até pode bem vir a verificar-se que não teremos mesmo que pagar tudo), acordámos indignados com a insistência de que paguemos, e pretendemos ter ficado admirados com a má impressão que causou nos nossos credores essa manifestação da nossa indignação.
Entrámos no plano inclinado do credit default. E o próprio Estado português, que há bem pouco tinha entrado na jogatana dos credit default swaps (CDS) relativamente à dívida soberana de outros Estados, e que tinha consentido que a banca portuguesa se lambuzasse nesses CDSs, protesta como uma virgam inocente que outros – outros bancos, outros Estados – estejam agora a investir em derivatives que apostam no credit default da dívida soberana do Estado português.
Papalvos e caloteiros dão-se as mãos e por uma vez unem-se na denúncia comum: a culpa é dos mercados, a culpa é de insistirem em que paguemos, a culpa é de desconfiarem da nossa vontade e capacidade para pagar.
Ou noutras palavras: estamos a perder? a culpa é do jogo, está na altura de se lhe mudar as regras.
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