O novo Ashram minimalista

sábado, 11 de setembro de 2010

Uma sequela do 11 de Setembro



Nove anos  já sobre um daqueles poucos momentos dos quais poderá dizer-se que inflectiram instantaneamente vários dos rumos da História.
Quero hoje lembrar apenas umas das consequências remotas em que me vi envolvido: a adesão da extrema-direita e da extrema-esquerda às mais imbecis teorias da conspiração acerca do evento (o Loose Change sobretudo, mais tarde o Zero Investigation, o Fabled Enemies, uma bateria de documentários do mesmo teor). A pose, de um e de outro lado dos extremos, era a mesma: olímpica indiferença pelos factos – até pelos testemunhos visuais acessíveis! – na medida em que eles não favorecessem os preconceitos e os credos.
Da extrema-esquerda pouco sei. Mas custou-me ver, no outro extremo, gente que eu julgava conhecer, alguma pessoalmente e outra de reputação, tão disposta a malbaratar um (já modesto, admitamos) capital de credibilidade a favor da mais crapulosa subjugação à parcialidade e ao fanatismo – mesmo em pessoas que, sei-o, profissionalmente estavam e estão adstritas à mais rigorosa objectividade na análise dos factos.
As minhas (já poucas) esperanças sobre a seriedade de ex-correligionários desmoronaram-se no meu íntimo com o ímpeto das próprias torres. A cegueira das paixões não se deixa atrapalhar nem com as evidências mais directas, e aquilo que se vê é filtrado e descartado por uma "super-narrativa" que aprisiona os fanáticos num sonho de pureza e congruência que se converte numa condicionadora "categoria do entendimento".
Ingenuidade a minha não o ter descortinado inteiramente antes do rescaldo do 11 de Setembro (embora já o vislumbrasse nas ladainhas anti-semitas, património comum dos dois extremismos). Talvez por comodidade eu tenha presumido que um mínimo de honestidade intelectual era tão sólido e confiável como as torres – antes de terem caído.

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