Quando nos pomos a contar as modas pelas quais já passámos é que nos damos conta da nossa profundidade temporal. Há uns dias lembrei-me da ascensão e queda dos queijinhos frescos, da manteiga de alho, do Trina de maçã, das couvinhas de Bruxelas, do tomate-cereja e da amarguinha a rematar os jantares; noutro registo, a salada de fruta tropical ou o Campari tónica como aperitivo, a sopa de beterraba e as ubíquas natas, a rúcula, o arroz árabe, os pimentos piquilhos, a cerveja Corona, o tsunami culinário de feijoada brasileira e de tudo o que era brasileiro, e ingerido a peso – com muita maminha e cupim propostos aos comensais com aquela técnica de vendas agressiva e que se tornou inolvidável. Que descansem em paz.
Alguma coisa ficou: os agridoces, aquela mania germanico-indiana de juntar algo adocicado aos pratos principais, a mostarda de Dijon, os vinhos alentejanos (passada a euforia inicial com tudo o que fosse alentejano e de coentrada, coisa dos anos 70 e 80), o vinagre balsâmico, a mousse de manga, e é claro, aquele embuste imorredoiro que é o "porco preto", de que se descobriu recentemente os "secretos".
Mais recentemente ainda a já defunta fondue, que tanto trabalho poupava aos cozinheiros, foi substituída pela moda do sushi e variantes. E as sobremesas conquistaram para elas pratos enormes, centrados numa minúscula bola de sorvete rodeada de amplos riscos mais ou menos perpendiculares e garridos. Não esqueçamos o azeite no prato para demolharmos o pão (poderoso emético), digno sucessor daquelas coisas "al ajillo" que por cá apareceram recrismadas de "à guilho", e das novas apresentações de tudo e mais alguma coisa em copinhos e pipetas, com aquelas colheres com que se mexe o café na turística dos aviões.
Já sei que comermos é deixarmo-nos enganar sugestionar voluntaria e alegremente, senão bastavam cantinas e malgas de arroz. Mal não faz, irmos evoluindo nas manias e nos gostos, em direcção à super-potente emulsão molecular: e como exercício de retrospecção é fascinante, conquanto algo deprimente – mas aí a culpa não é dos petiscos, é da mala pata negra da idade.
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