Pede dois angus burgers e duas Sierra Nevadas (strong ale) e para ali fica a desbobinar a sua vida de venturas, aventuras e desventuras, enquanto eu devoro a minha metade (a hora é tardia). Tem 65 anos e recorda o seu activismo dos sixties, de como estava presente no discurso "I have a dream" (estava longe, ouviu mal, achou o Luther King Jr. demasiado enfático e com a cadência pomposa de um evangelista, só mais tarde se comoveu a ler o texto). Como bom "liberal", vê fascismo em todo o lado e eu nem me atrevo a avançar uma opinião minha. Divorciado há demasiado tempo, namora com mulheres da idade das filhas, e frequenta bares que manifestamente já há muito deveria ter deixado de frequentar. Não importa, vende saúde e revela-me, com o ar mais convicto possível, que tenciona pedir a reforma aos 90 anos.
O DJ residente arranca com um sampling furioso e estridente, ao mesmo tempo que a iluminação cede perante a feérie estroboscópica. Pega do telemóvel, liga à filha mais nova e, empunhando o aparelho, aproxima-se das colunas ("queria que ela ouvisse, partilhamos este gosto musical; sinto muito a falta da companhia dela; mas já falei de mais a meu respeito", remata enquanto mistura a Sierra Nevada com um copázio de bourbon e saúda efusivamente, com excessiva familiaridade, uma barmaid).
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