O novo Ashram minimalista

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Rumo a norte

Férias, para mim, não são este desterro em paragens demasiado quentes e modorrentas.
Sinto a falta do vento, das ondas, do poente chapado no mar, da neblina matinal e da nortada vespertina; do frio nos ossos lentamente retemperado pelo Sol, da calçada irregular, de uma mistura (em subtis percentagens) de gaivotas e andorinhas, de nuvens acastelando-se no mais impiedoso e romântico dos oceanos; do chilreio das crianças, do cheiro a café, a maresia, a frango, a maresia, a peixe seco, a melão, a maresia e a pão quente, dos rituais pausados das "férias à antiga", da contemplação das memórias de traineiras que já não regressam mas que ainda visualizamos a deixarem o seu rasto de limos pela areia; de uma outra noção de tempo, sem relógio, guiada apenas pelos cambiantes de luz e pelo fôlego das marés; e, mais importante, da memória do abraço de familiares e amigos que connosco arrostavam estoicamente esses verões contingentes e caprichosos, preenchendo em conversas (também "à antiga") as irrupções da invernia, com ou sem vigorosas marchas rumo a Norte, sempre ao vento, um vento implacável, um vento vivo.
São memórias demasiado doces de verões salgados para que possam contra elas competir as torrentes de SPAs, Resorts e Aquasplashs betonados, ajardinados e sem alma com os quais hoje se preenchem, numa sucessão sem referências e por isso não-memorável, os meus verões de fachada, do lado errado do Cabo da Roca.

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